segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Peixe Grande

 
Peixe Grande
Aproveitei o frescor da manhã chuvosa, coloquei meu novo chapéu que ganhei vindo do Panamá, convidei meu pensamento e fomos rever o centro de Manaus. A cidade está quase deserta, um convite a caminhar. Aqui no mercado Adolpho Lisboa os permissionários conversam entre si, por falta de clientes, dando-me oportunidade de puxar conversa, especialmente com os mais antigos. Hoje a conversa sobre Manaus escasseou, e logo comecei a ouvir histórias de grandes pescarias num passado em que os peixes boiavam nas escadarias dos remédios e vez por outra surgia um afoito tubarão que havia subido o Rio Amazonas vindo lá das bandas do Pará. ─ Ora, um tubarão que viaja da foz do Amazonas até aqui não merece ser pescado, precisa ser preservado pela sua coragem, dizia Palmari. Palmari é um homem conhecido entre pescadores por Carapura o quer dizer pescador de peixe grande, mas as más línguas dizem que o seu maior peixe pescado foi um lambari, entretanto eu acredito nele e em suas histórias, afinal de contas ele é meu amigo. Palmari aproveitou para contar que antigamente só pescava peixes nobres que não pesassem menos de dez quilos, inclusive o Jaraqui e o Cará. Para maior encanto, contou suas aventuras de fartas pescarias quando em Janauacá fisgou um Pirarucu de oitocentos quilos dando muito trabalho para colocá-lo na canoa, e ao chegar próximo à praia uma cobra grande engoliu o peixinho pensando ser uma sardinha. Palmari ainda hoje é grato a Deus por não ter sido engolido pelo monstruoso reptil. Também contou um fato interessante de numa pescaria num grande lago em Tefé. ─ Contarei esse caso porque sei que você sendo também um pescador acreditará em mim e sabe que existem muitos fenômenos  estranhas em águas que muitos desconhecem. Emocionado, disse Palmari. Acredito em suas histórias, sei que você é um grande pescador, respondi
Creia seu Antonio: Estava à beira do lago, era manhã, ainda, nem via os raios do Sol, caia um sereno suave de manhã sorridente. Arrumei a canoa e me lancei ao lago. O sereno serenou, o Sol nasceu com raios dourados e animadores e eu joguei o anzol pensando comigo mesmo: ─ hoje será um grande dia, só eu, o lago e a canoa. Pescarei um grande peixe e vou contar pra o todo mundo até que a notícia chegue a Manaus, Acredite; eu sonhava tal criança, nem via a hora passar. Meio dia Sol a pino, havia pescado apenas alguns peixinhos miúdos, dois tucunarés de oito e doze quilos, e alguns peixinhos menores, mas o grande peixe sonhado ainda era só esperança. Passava das quinze horas, estava cansado e sob um calor abrasador. Havia perdido a esperança, achando que aquele não era meu dia. Aí, seu Antonio, aconteceu uma coisa estranha, sob um calor intenso eu havia cochilado e ao despertar estava em minha frente uma mulher que não tenho palavras para descrever sua inolvidável beleza. Sorrindo, ela tocou em minha cabeça e eu encantado desci às profundezas do lago visualizando um castelo de cristal, com paredes translúcidas e uma imensa variedades de peixes que eu nunca pensei existir. Enxerguei e ouvi o cântico encantador das sereias que em forma de belíssimas mulheres se apresentavam ornadas com as mais belas e ricas joias. Não sei quanto tempo eu permaneci naquele lugar, mas de repente voltei a minha canoa que misteriosamente já se encontrava na beira do lago. Era noite. Chorei de emoção e hoje com saudade relembro aquele momento de puro encanto. Foi esse o maior acontecido que tive o merecimento de vivenciar em toda a minha vida de pescador.
Contemplando o semblante de Palmari, vi seus olhos pejados de lágrimas e senti imensa sinceridade em seu amoroso coração de pescador de peixe grande, conectado com a Natureza.
 
 


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