Antonio de
Albuquerque
2015
BR 319
Ao
caminhar sozinho por parques, estradas e ruas, sinto ser um momento especial
para observar; carros que passam em disparada, a bike, a calçada onde piso, as
pedras e árvores centenárias, a velha edificação e a nova, enfim, tudo em
volta. É um momento em que meu pensamento se expande a níveis elevados, tendo a
sensação de estar só, tudo que enxergo é objeto de observação e sonhos. Quando
de carro, ou ônibus passo pelos mesmos lugares, não espio miudamente detalhes porque
o pensamento busca informações noutros lugares. Assim, mergulho em pensamentos que
me premiam com sublimes lembranças, eternizadas qual o perfume se esparge sobre
as recordações, trazendo primaveras de ternura, num sonho gracioso de saudades.
Lembro-me da minha chegada à Manaus, cidade
menor, com cerca de quinhentos mil habitantes. Hospedei-me no hotel Amazonas,
na época o único da cidade com boas acomodações. Na janela do quarto de frente para
o Rio contemplava a bela paisagem, e com os olhos marejando sentia saudade da
minha terra, do Mucuripe com seus morros de areia alva, e no pensamento viajava
ao sertão relembrando; as vaquejadas, engenhos, alambiques de cachaça, melado,
moenda e dos bons amigos de infância. Mas, acarinhado pelo tempo permaneci no
Amazonas aprendendo a amar esse lendário e histórico continente verde. Manaus, hoje,
uma grande metrópole com erros e acertos. Sinto-me tão ligado a ela, que quando
ferida, também sinto sua dor. Uma das primeiras pessoas que conheci em Manaus foi
o nobre professor Gilberto Mestrinho, em razão da empresa que eu trabalhava ser
ligada a outra que lhe pertencia. Então, conversávamos sobre negócios, e dele também
recebia sábios ensinos sobre a Amazônia.
Lembro-me
que certa vez ele me falou das potencialidades do Amazonas na produção de
medicamentos, móveis, petróleo, gás e minérios, inclusive de minérios
estratégicos, mas também me lembrou da extrema dificuldade logística existente.
Em meu breve convívio com aquele extraordinário amazonense pude aprender um
tiquinho de coisas sobre esse continente verde, coberto de florestas, água e
uma incalculável biodiversidade. Hoje, sofro ao perceber as atrocidades
cometidas contra o Amazonas. Forças estranhas, embora conhecidas, tentam
impedir a consolidação de uma rodovia ligando o Amazonas ao sul, ao atlântico e
pacifico, sendo que esta, consolidada, proporcionará a redenção do polo
industrial de Manaus. Grupos políticos que se revezam no poder, ainda não conseguiram
liberar esta rodovia tão importante para o desenvolvimento do Amazonas,
construída pelo regime militar, ainda na década de 70. Tenho tristes notícias da
existência de grupos econômicos procurando impedir a sua consolidação, no entanto creio que existindo vontade política dos
nossos dirigentes haveremos de vencer. Nossos gestores políticos têm capacidade
de promover audiências públicas informando o andamento da execução da BR 319,
convocar o povo para, nas ruas protestar contra essa traição à Amazônia. Esta
reserva que o outro rico Brasil tem como sua, precisa ser cuidada, zelada e
respeitada, seu povo não precisa de sobras, precisa, sim, de respeito. Sinto
que esse golpe contra nossa terra tem ligações com a nefasta corrupção dominante
nesse país democrático. Precisamos
sepultar a corrupção para que a nova geração não a encontre flutuando nas águas
do rio Amazonas e a Educação dos nossos jovens não se esvaia em ralos e esgotos
construídos ainda, no tempo do respeitável governador Eduardo Ribeiro. Agora,
não mais choro, mas caminhando pela Boulevard Álvaro Maia, permaneço em
vigília, pensando num Amazonas melhor para seus filhos.