sábado, 31 de outubro de 2015

BR 319

Antonio de Albuquerque
2015
BR 319
Ao caminhar sozinho por parques, estradas e ruas, sinto ser um momento especial para observar; carros que passam em disparada, a bike, a calçada onde piso, as pedras e árvores centenárias, a velha edificação e a nova, enfim, tudo em volta. É um momento em que meu pensamento se expande a níveis elevados, tendo a sensação de estar só, tudo que enxergo é objeto de observação e sonhos. Quando de carro, ou ônibus passo pelos mesmos lugares, não espio miudamente detalhes porque o pensamento busca informações noutros lugares. Assim, mergulho em pensamentos que me premiam com sublimes lembranças, eternizadas qual o perfume se esparge sobre as recordações, trazendo primaveras de ternura, num sonho gracioso de saudades. Lembro-me da  minha chegada à Manaus, cidade menor, com cerca de quinhentos mil habitantes. Hospedei-me no hotel Amazonas, na época o único da cidade com boas acomodações. Na janela do quarto de frente para o Rio contemplava a bela paisagem, e com os olhos marejando sentia saudade da minha terra, do Mucuripe com seus morros de areia alva, e no pensamento viajava ao sertão relembrando; as vaquejadas, engenhos, alambiques de cachaça, melado, moenda e dos bons amigos de infância. Mas, acarinhado pelo tempo permaneci no Amazonas aprendendo a amar esse lendário e histórico continente verde. Manaus, hoje, uma grande metrópole com erros e acertos. Sinto-me tão ligado a ela, que quando ferida, também sinto sua dor. Uma das primeiras pessoas que conheci em Manaus foi o nobre professor Gilberto Mestrinho, em razão da empresa que eu trabalhava ser ligada a outra que lhe pertencia. Então, conversávamos sobre negócios, e dele também recebia sábios ensinos sobre a Amazônia.
Lembro-me que certa vez ele me falou das potencialidades do Amazonas na produção de medicamentos, móveis, petróleo, gás e minérios, inclusive de minérios estratégicos, mas também me lembrou da extrema dificuldade logística existente. Em meu breve convívio com aquele extraordinário amazonense pude aprender um tiquinho de coisas sobre esse continente verde, coberto de florestas, água e uma incalculável biodiversidade. Hoje, sofro ao perceber as atrocidades cometidas contra o Amazonas. Forças estranhas, embora conhecidas, tentam impedir a consolidação de uma rodovia ligando o Amazonas ao sul, ao atlântico e pacifico, sendo que esta, consolidada, proporcionará a redenção do polo industrial de Manaus. Grupos políticos que  se revezam no poder, ainda não conseguiram liberar esta rodovia tão importante para o desenvolvimento do Amazonas, construída pelo regime militar, ainda na década de 70. Tenho tristes notícias da existência de grupos econômicos procurando impedir a sua  consolidação, no entanto  creio que existindo vontade política dos nossos dirigentes haveremos de vencer. Nossos gestores políticos têm capacidade de promover audiências públicas informando o andamento da execução da BR 319, convocar o povo para, nas ruas protestar contra essa traição à Amazônia. Esta reserva que o outro rico Brasil tem como sua, precisa ser cuidada, zelada e respeitada, seu povo não precisa de sobras, precisa, sim, de respeito. Sinto que esse golpe contra nossa terra tem ligações com a nefasta corrupção dominante nesse país democrático.  Precisamos sepultar a corrupção para que a nova geração não a encontre flutuando nas águas do rio Amazonas e a Educação dos nossos jovens não se esvaia em ralos e esgotos construídos ainda, no tempo do respeitável governador Eduardo Ribeiro. Agora, não mais choro, mas caminhando pela Boulevard Álvaro Maia, permaneço em vigília, pensando num Amazonas melhor para seus filhos.


segunda-feira, 19 de outubro de 2015

A canoa Fez Água

A canoa fez água
Visitar lugares e lembrar-se de vivências passadas às vezes pode ser doído, mas geralmente  traz boas alegrias. Quando o visitante não encontra no local uma pessoa para comentar, fica sozinho  a sonhar, se alegrar e até sofrer quando as lembranças trazem alguma dor. Gosto de fazer incursões pela cidade de Manaus e ontem visitei Educandos, Baixa da Égua e Panair, pané como muitos conhecem. Na orla do Educados estacionei o carro e fiquei observando o movimento das águas e o navegar das embarcações nas águas escuras do impetuoso Rio Negro. Também pensando como será maravilhoso,  um dia as autoridades construírem uma ponte ligando Manaus ao município do Castanho, e sobre o encontro do Negro com o Solimões, um mirante bem estruturado com estacionamento e restaurantes. Certamente será uma forma de incentivar o turismo tão minguado numa cidade importante como Manaus, construída no meio da selva banhada pelos maiores rios do mundo.
Meus pensamentos traziam ideias fantásticas para minha mente quando me lembrei de uma história que o amigo, Mestre Lucas me contou quando ali estivemos bem próximo do dia em que Deus o levou para o céu. Então, um primo de Mestre Lucas; rapaz forte e bom nadador, recém-chegado do interior planejou ir à cidade de Iranduba e, por teimosia quis atravessar o Rio Negro em uma canoa. Por Lucas foi aconselhado a desistir da ideia, mas sendo teimoso não ouviu os conselhos do primo e empreendeu sua excursão sem pensar nas consequências que poderiam advir segundo Mestre Lucas não foram boas. Seu nome era Porunga. (bonito)
Era outubro, sol quente com uma elevada temperatura, Purunga remava com altivez, aos quarenta minutos de peleja sacou fora a camisa e a calça, precisava sentir algum frescor no seu corpo quente e queimado pelo sol abrasador. Cansado, sentindo ardor nas mãos e com o corpo doido pelas queimaduras, não havia chegado nem próximo do meio do rio.  Algumas embarcações passavam sinalizando alguma coisa e Purunga pensava serem aplausos pela grande bravura, mas os que passavam chamavam sua atenção para um visível buraco na canoa. Purunga percebeu, mas já era tarde, a canoa estava prestes a ir ao fundo e ele pensou que nadando sem a calça seria melhor e ficou apenas de cueca.
A canoa afundou e Purunga ao pular n’água também perdeu a cueca. Nadou alguns metros, sendo socorrido por uma patrulha da Policia fluvial que o prendeu por atentado ao pudor. Em seguida Purunga, e agora também pelado foi conduzido ao distrito e autuado na forma da Lei, E pagando fiança foi solto.


sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Soberano Amazonas

 
O soberano Amazonas
Quando menino morava no sertão cearense, uma região muito seca e lembro-me de uma grande estiagem quando levávamos o gado a um barreiro para beber água a algumas léguas da casa onde morávamos. Era tudo que tínhamos para oferecer ao gado que restava, era também o que dispúnhamos para o consumo em casa. Lembro-me do meu pai com os olhos marejados afirmando que o Amazonas era a terra mais rica do mundo em água e minérios, culpava seu avô por não ter vindo para o Amazonas, quando migrou para o Brasil, preferindo Pernambuco onde moravam alguns parentes, também judeus. Cresci ouvindo falar que o Amazonas é uma reserva para o Brasil, onde se encontra uma riqueza imensurável.  Até 1999 quando morreu, meu pai falava do Amazonas como um lugar próspero e de grande futuro, podendo até se transformar numa poderosa nação, se assim quisessem seus habitantes, hoje, refletindo suas palavras vejo que ele tinha uma extraordinária visão do futuro. Passaram-se cinquenta anos e vejo alguns maus brasileiros preparando o Amazonas para entregá-lo para as  potências mundiais. Esse entregar significa; travar  seu desenvolvimento social, cultural, científico e tecnológico, isolar o território do Amazonas por comunicação, logística e cultura, isso é apenas parte de um projeto criminoso, cujo objetivo é o acolhimento daqueles que não têm mais aonde viver divididos por guerras e outras desgraças que assolam o planeta, infortúnios causados por eles mesmos, induzidos pelo poder e ganância de dominar os mais fracos, e o enriquecimento ilícito de poderosos grupos que manipulam a política no Brasil. Se esse pensamento se materializar, todos que foram partícipes em desmandos da coisa pública brasileira ou se omitiram, responderão pelas consequências abissalmente desastrosas, cabendo às autoridades futuras  julgar seus atos de traição à pátria com o rigor da Lei. Meu pai havia participado da coluna Prestes, e junto a alguns militares e civis amantes do Brasil, coisa rara nos dias atuais, conheceu a realidades desse continente verde que é a Amazônia. Ele afirmava que o Amazonas não precisa de tutor para existir por ser uma região que têm tudo que uma nação precisa para ser nação. Eu tinha um sonho; conhecer o Amazonas. Era um projeto que guardava só para mim por achar que seria uma conquista muito difícil. Realizei o sonho e quando aqui cheguei procurei me integrar à região conhecendo sua cultura, fauna e flora, confirmando, assim, o pensamento do meu pai, e hoje como observador acompanho o desenvolvimento da região em seus principais segmentos, principalmente no Amazonas, lugar que escolhi para viver e amar. O Amazonas tem uma incalculável riqueza, em minérios, inclusive minérios estratégicos, o nióbio, que falam da sua retirada do país ilegalmente da sua maior reserva em Roraima, tem gás e petróleo, a maior reserva de água do mundo e a maior biodiversidade do planeta. Então, o Amazonas fazendo parte da República Federativa do Brasil merece, e tem  por direito promover seu desenvolvimento, e ninguém pode impedir seu progresso. No meu entendimento o Amazonas teve quatro grandes conquistas; A extração do látex, a Zona Franca de Manaus, o aeroporto Eduardo Gomes e o Comando Militar da Amazônia, onde três delas foram concedidas pelo regime militar. Se inimigos da pátria não tivessem abandonado a transamazônica, a BR 319, trabalho inicial do regime militar e mal administrado por alguns políticos carentes de moral e ética, o Amazonas estaria numa situação privilegiada no contexto nacional. Tenho noticias que quando um investidor se dispõe a realizar um projeto industrial no Amazonas é inibido por interesses do sul e sudeste do país, ficando para o Amazonas apenas as sobras. E aí, esses mesmos grupos contrários ao Amazonas falam na preservação da floresta. Falam da devastação da floresta e eles mesmos a queimam no sul do Amazonas, fazendo campo para a cria de grandes rebanhos. Porque não é o nosso caboclo que destrói a flora e a fauna, ele apenas faz um roçado para plantar mandioca e caça um tatu para saciar a fome. Temos todas as riquezas já citadas, mas para muitos que moram no Amazonas não  têm acesso às riquezas que o outro Brasil dispõe para seus habitantes, pois falta escola, comunicação, logística, portos, estradas, aeroportos e muito mais. Então, temos tudo que uma nação precisa possuir para ter um grande desenvolvimento; Por que não podemos ser uma grande nação?Por que não acordamos? Porque não deixamos o Brasil rico seguir seu caminho em paz? Porque não seguimos nossa própria direção dividindo a riqueza desse continente verde, com o índio, o ribeirinho e todos nós, caboclos da Amazônia? Precisamos pensar. Pensar bem, penetrando fundo na nossa consciência, examinando bem direitinho se a solução é permanecermos de cabeça baixa tais ovelhas de rebanho.

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Felicidade


Antonio Albuquerque

Outubro 2015

Felicidade

Aproveitei o domingo para visitar o centro de Manaus, com o sol ameno caminhei pela Avenida Eduardo Ribeiro admirando o Teatro Amazonas, Palácio da Justiça e alguns prédios antigos bem conservados. Bem conservados pelo menos nessa Avenida porque em outras ruas as autoridades precisam olhar com mais amor. A arquitetura desses prédios antigos lembra a história dessa extraordinária cidade erguida no meio da grande floresta amazônica. Essa antiga arquitetura nos transporta aos bons tempos da cidade  da borracha do século passado.
 Queria chegar à parte baixa da cidade a margem do caudaloso Rio Negro, ao antigo porto da MANAOSHARBOR. Escolhi um bom lugar junto às embarcações onde eu pudesse observar o movimento no porto onde embarcavam passageiros para os mais diversos rincões do interior. O embarque, desembarque e o vai e vem das pessoas me trouxeram saudosas lembranças de Manaus quando ainda era uma pequena cidade composta por pessoas felizes, alegres e acolhedoras. Abstraído em pensamentos sentia que os viageiros das embarcações buscavam a felicidade ou pelo menos a esperança de serem felizes. Por certo que sim, porque quem tem apenas a esperança de ser feliz fica melhor de que quem nem a isso tem, mas creio que muitos moradores dessa linda cidade são felizes.
O certo é que nós queremos a felicidade, mas alguns ainda não sabem onde encontrá-la. E se todos querem encontrá-la é porque com ela já possuíram alguma experiência no passado. Não a encontramos facilmente porque ela mora num recôndito lugar de difícil acesso da nossa memória, porém acessível quando a buscamos verdadeiramente. Então, estou convicto que com ela tive alguma experiência, sendo essa a razão de querê-la e amá-la tanto. Quando sinto tristeza lembro-me da alegria passada, e quando me sinto infeliz lembro-me da felicidade que traz a alegria. Quando a alegria me é causada por ações ruins, à lembrança me constrange, mas quando causada por ações virtuosas sinto saudade. Então, a alegria é um sentimento que está na nossa memória e a reconhecemos quando estamos felizes. Com o pensamento banhado de ternura e saudade, estou feliz por poder admirar esse cenário rico em beleza e história. Os viageiros com suas redes atadas no convés das embarcações contemplam o indômito Rio Negro, suas várzeas, e a floresta  com suas belezas e seus encantos. Estão felizes e nem percebem porque a alegria e a felicidade caminham juntas, não podemos vê-las nem senti-las, pois o sábio é aquele que acha a si mesmo e que acha a felicidade em si mesmo.



 


 


 

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Maité

Passava das quatro horas, ainda escuro, eu caminhava protegido pelas marquises dos velhos casarões da cidade histórica da velha Manaus. Cidade marcada pelos prédios antigos do século 19, tempo áureo da borracha. Mesmo sob as marquises minha roupa encharcava pela torrencial chuva. Tinha pressa, queria chegar ao histórico Mercado Adolpho Lisboa, símbolo de uma época de progresso. Na escadaria que dá acesso ao porto ouvia a voz forte dos barqueiros oferecendo bilhetes de viagem para os mais diversos lugares da região. Diante de muita agitação ainda não sabia para onde viajaria, mas estava decidido, pretendia me afastar da cidade grande. Há muito eu sentia a necessidade de me isolar por algum tempo num lugar tranquilo onde eu pudesse pensar distante da cidade com seus problemas inerentes a lugares apinhados de pessoas. Lia-se numa placa de papelão; barcos para o baixo Amazonas, Solimões, Rio Negro e outros nomes especificando lugares. A que horas sai o barco para Barcelos? Perguntei. — Sete horas, respondeu um moço segurando um papel. Seis horas algumas redes estavam atadas no espaçoso convés da embarcação. Agasalhei minhas coisas embaixo da rede, escolhi para a leitura na viagem um livro de Saramago, “Cain”, então eu pensei; vou ler e entender a razão de tanta confusão por causa dessa obra que culminou com ida do mestre Saramago para a Espanha. O barco navegava nas águas do Rio Negro e a brisa fresca da manhã acarinhava meu rosto assustado pela aventura que se iniciava naquele sábado. Deitado na rede contemplava a margem do rio e o distanciamento da cidade, sentindo que deixava algo importante para trás. Creio ser esse o sentimento de todas as pessoas que deixam a cidade e são acolhidas pelas águas, florestas e também pela linguagem cabocla que nos aproxima da natureza nos tornando simples e solidários. Naquele momento eu tinha um turbilhão de pensamentos, porém o mais importante era a viagem que me trazia um sentimento prazeroso de liberdade. Queria aproveitar a paisagem da floresta, o movimento das águas, a revoada dos passarinhos, conhecer algumas espécies de peixes, pássaros, macacos e tradições ribeirinhas. Desliguei-me da cidade penetrando num sonho encantado da floresta. Ao meu lado numa rede amarela viajava uma bela jovem índia de fulgurante boniteza que chamou minha atenção. Ela me olhou com um sorriso encantador, àquele sorriso revelou uma criatura extraordinária, uma energia que me fez pensar na natureza e seus encantos, seu olhar desnudava seu ser. — Bom dia, alegremente disse a moça. Bom dia, vamos fazer uma boa viagem à Barcelos, respondi. — Sim, porém, desembarco antes de chegar à cidade para visitarei uma nação indígena, lá participarei de uma celebração. Se você estiver disposto a caminhar e quiser me acompanhar, podemos ir juntos. Ao regressarmos embarcaremos nesse mesmo barco de volta à Manaus, concluiu. Vou pensar, acho a ideia interessante, mas nem sei o seu nome? — Meu nome é Maité. Essa palavra vem do Nheengatú, meus ancestrais falavam esse idioma que até nos dias atuais é falado por algumas nações indígenas da Amazônia, concluiu. Então, juntos pela floresta podemos viajar à sua comunidade. Quero muito conhecer essa nação. O barco abarrancou, descemos e permanecemos olhando o barco se afastar até desaparecer numa curva do rio. Tão curta a viagem e já sentia saudade do aconchego no convés da embarcação. ─ Agora sim, podemos caminhar até chegarmos à nação indígena. Prepare-se para uma grande surpresa, disse a bela jovem. Que surpresa, disse eu. ─ Boa. Se revelasse não seria surpresa, sorrindo respondeu Maité. Seguimos por uma trilha, Maité caminhava à frente irradiando beleza e sensualidade o movimento dos seus quadris lembravam o bambolear do voo de um gavião. Ela conhecia a floresta e caminhava com estrema leveza, parecia não tocar nas folhas espelhadas pela terra. Paramos por algum instante e ela chamou minha atenção para uns pássaros que pousavam no alto das árvores. —Alguns desses pássaros já estão em extinção em decorrência da falta de sensibilidade ecológica dos homens, falou Maité. Nossa caminhada continuou floresta adentro, me sentia leve como o pousar de uma andorinha, nenhum pensamento me conduzia à cidade grande. Fazíamos algumas rápidas paradas para comentar algumas coisas da natureza, e ela tinha sempre algo a me ensinar. Sentamos-nos a beira de um igapó entre as sororocas, ouvindo o rumor da água a mimar os peixinhos coloridos num encantamento que só a floresta nos trás. Um bem-te-vi cantava anunciando nossa presença, a tarde caia mansa e serena, por um longo tempo permanecemos em silêncio. No céu as estrelas brilhavam, era noite. A brisa suave enxugava meu rosto e conduzia meus pensamentos para um mundo encantado num clarão eterno de luz fecunda da lua movedora. Com uma voz branda e meiga como se ecoasse pelo universo Maité pediu-me para fechar os olhos e enxergar com a mente. Num vale rico de encantamento e beleza num ritual de cânticos de alegria, milhares de pessoas reverenciavam a grande rainha daquele povo. Tratava-se de uma grande nação, uma antiquíssima civilização que ali existiu a mais de seis mil anos, deixando de existir na dimensão material. No centro do vale uma formosa cachoeira transformou-se num belíssimo arco-íris, entre as cores enxerguei uma linda imagem de mulher, Maité. Uma radiante manhã surgiu com um sorriso de alegria. Nem percebi o tempo passar na noite. Maité sorria e eu sentindo um clarão dentro da alma caminhei na direção do Rio Negro. Maité seguia meus passos voltando à cidade, tinha os olhos embaçados de sonhos, com o coração banhado de luz e encantamento, na certeza que nem tudo é matéria densa como pensamos, entre a terra e o céu existem infinitos mistérios e moradas de Deus. </i>

Bela Senhora

 
 
 
Algumas pessoas surgem em nossa vida, apresentam-se, falam, sorriem, vão embora e nunca mais as vemos, despontam nos momentos difíceis regando o sofrimento com um fecundo amor, colocando um tijolinho na construção do nosso ser.  Essas pessoas têm o poder de transformar nossa forma de pensar, norteando nossa vida e nos conduzindo a um degrau mais alto na nossa existência. Alguns de nós já recebemos um bom conselho ou mesmo nos espelhamos na vida de uma pessoa que conhecemos por breves momentos, são momentos sublimes que se não prestarmos atenção nunca perceberemos. Lembro-me de uma senhora de fulgurante beleza que encontrei num supermercado. Num breve momento ela sorrindo me olhou e eu mergulhei no seu encanto. Ela falou alguma coisa que não entendi e foi embora, nunca mais a vi, também não esqueci, e sua imagem permaneceu na minha lembrança, e, assim, transformei algumas coisas após esse encontro que por certo não foi casual. Desde então, presto mais atenção nos acontecimentos ao meu redor, sinto que jamais a verei, a não ser que o nosso pensamento que está conectado a todos do universo promova novo encontro. A vida é plena de segredos e mistérios e o pensar é um atributo nosso que precisamos conhecer, pois, encontramos-nos mergulhados em pensamentos conectados a outros pensamentos no universo e nunca estamos sós. Por esta razão, os encontros dessa natureza não são casuais.  Quando ainda não temos muita afinidade com o pensamento, imaginamos ser ele uma coisa muito simples, mas ao pensar no que estamos pensando  descobrimos sua imensa complexidade edificada por ideias e emoções, formando sentimentos ruins ou nobres. O pensamento é capaz de manipular outras energias do nosso corpo, construindo o que pensamos. Um pensamento com mágoa, ressentimento, rancor e ódio é um veneno viajando pela nossa corrente sanguínea, contaminando órgãos, inclusive as células que obedecem a seu comando. É por isso que precisamos nos conectar com outros pensamentos numa faixa vibratória elevada para sairmos de pensamentos ruins que estão sujeitos a produzir sentimentos também ruins. Necessitamos, sim, de pensamentos pautados na virtude para termos sentimentos nobres. Enfim, construímos o que pensamos e somos o que pensamos. O pensamento da Bela senhora estava conectado ao meu.