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quinta-feira, 15 de novembro de 2018
terça-feira, 18 de outubro de 2016
Sonhando
Antonio
de Albuquerque
Sonhando
Acordei com saudade tendo a sensação que em sonho
visitei um passado muito distante. Essa era a impressão. Pela janela do Tapiri
ouço a algazarra de crianças a brincar, embora adore crianças não consigo boa
concentração escutando o encantador rumor que fazem, parecendo passarinhos
chegando aos seus ninhos. Nem consigo pensar, embora volte a sentir incontida
saudade e os pensamentos me conduzindo a idear lugares e pessoas que até penso
não conhecer. Dizem que ao dormirmos nosso espírito visita lugares, coisas e pessoas.
Creio nessa afirmação lógica, visto que fora desse corpo material possuímos
incomensuráveis atributos e possibilidades que ainda desconhecemos. Quando do
sonho ao corpo retornamos nada ou de quase nada nos lembramos. Não recordamos
em face da matéria pesada que ocupamos, assim afirmam os que procuram entender
o que é a matéria e o que é o espírito.
Quem sabe!
Caminhando pelas ruas deixarei para trás essa triste saudade! Pensei. Era cedo
e as ruas estavam quase desertas, apenas algumas pessoas caminhavam em direção
a reserva florestal Samaúma. Então, resolvi segui-las pensando encontrar um destino
para acalentar os pensamentos que me afligiam trazendo uma saudade doída. Caminhei entre floridas e bem cuidadas
alamedas circundadas por imensas arvores; Jatobás, Castanheiras, Samaúmas,
Imburanas de Cheiro, Caranapaúba, Pau-d’arco, Breu, Cajueiro, Jatobás e tantos
outros vegetais que agradam meus sentidos. A bela manhã sorria e o vento
acarinhava meu rosto com um sorriso de luz do alvorecer.
Resolvi então, sentar à sobra de um frondoso Jatobá
para melhor observar o aprazível santuário. Num profundo silêncio comecei a pensar
na perfeição da Natureza, imaginando que é no silêncio que choramos, nos
alegramos, sorrimos, amamos, gozamos e falamos com Deus. Folhas verdes guardavam
o orvalha da manhã que se derramava sobre galhos caídos, e acima deles minúsculos
insetos caminhavam, e entre tantos as formigas seguiam uma minúscula trilha de
contornos definidos penetrando nas rachaduras da terra úmida enriquecida por
nutrientes naturais. Estava eu completamente envolvido e embasbacado com o harmonioso
cenário, percebendo um mundo diferente em que eu me envolvera sem sentir nenhuma
ligação com o que experimentara antes; a saudade revelada. Ágora, pensava na
perfeição da natureza. Raios dourados do Sol penetravam por entre os saudáveis
galhos floridos do Jatobá, e a suave brisa da manhã afagava meu rosto tingido de
contemplação num esplendoroso acalanto da Natureza, meu coração vibrava de
felicidade e alegria. Adormeci sonhando.
Sonhando um sublime perfume, chegou
a mim
uma bela árvore em forma de homem nomeado de Breubranco, dizendo que sua resina
secretada, naturalmente da árvore é utilizada em pó queimado cuja fumaça é
usada para curar as dores de cabeça e insônia de criança espantada. O pó da sua
resina também é usado para tratar cortes no corpo. A fumaça do pó queimado do Breubranco
atrai boa energia e afasta a ruim.
Assim contou o homem que para
mim se apresentou narrando sua história, quando tudo iniciou na África setentrional
a milhares de séculos em um passado tão distante esquecido pelo homem.
Então, contou o
nobre visitante:
─ Nasci num
lugar na África setentrional, filho de um mandatário de uma nação muito
atrasada que acreditava em magia negra e vícios malfazejos, embora o rei fosse
um homem virtuoso. Eu era seu filho conhecido por príncipe Breu “o benfeitor”.
O rei era um sábio homem e a mim confiou à missão de tirar aquele povo da
ilusão. A natureza havia me dado o direito de ser um sensitivo e quando
visitava as tribos do reinado afastava a energia ruim que dominava os lugares, despedindo-a
com minha força mental, ainda que praticasse algum ritual para satisfazer a
compreensão deles. Sentido com o sofrimento dos súditos do meu rei, um dia pela
força da Natureza me encantei nessa árvore que sou, dando continuidade a missão
que me foi confiada, afastando das pessoas e, dos lugares, doenças e forças
maléficas, despedindo-as para outras dimensões.
Despertando com
o pensamento sonhando a beleza do verde da Natureza, com sentimento de alegria numa
ternura que alenta a vida, volto desse indelével passeio, e aqui da varanda do
meu Tapiri, enlevado escuto a chuva molhando a roseira, o vento ventando
alegria sentindo-me mergulhado nos encantos da misteriosa floresta, arco-íris,
seiva das belezas da vida, lembrando-me da figura encantada de Breubranco, o
benfeitor, com seu perfume e força curadora. Com os olhos banhados de lendas trouxe
de volta a alegria e a felicidade que nunca mais sairá de mim nem de você.
sábado, 9 de abril de 2016
Velho Bento
Pedro
se despedia do Nordeste, sabendo que em breve a empresa para a qual trabalhava
iria mandá-lo para o Norte em busca de novos negócios, e assim também
realizaria seu grande sonho, conhecer o Norte do Brasil, imensa e exuberante
região coberta de florestas e água. Enquanto isso iniciava, no sul do Piauí,
uma viagem procurando chegar a uma cidade no sertão pernambucano que atravessaria
uma região deserta, com estradas ruins e alto índice de assaltos. Pedro
abasteceu o carro com um tanque sobressalente e alguma alimentação: pão, azeite,
mel de abelha e água potável. Pedro estaria viajando sozinho pelo menos por
doze horas e estando se despedindo, essa
viagem tornara-se histórica e inesquecível. Nessa viagem surgiriam
acontecimentos marcantes que transformariam profundamente sua vida.
Aproveitou o frescor da manhã e às seis horas
estava na estrada dirigindo em baixa velocidade para melhor segurança e também gravar
na memória a paisagem do sertão. Eram onze horas, e sob o brando sol da manhã
parou em uma elevação e ali permaneceu por alguns minutos, observando a estrada
gretada e a terra seca do sertão, imaginando como uma pessoa poderia viver
naquele árido lugar. Distante enxergou uma árvore verde e frondosa, tratava-se
de um juazeiro que possui raízes profundas que chucham água nas profundezas dos
leitos secos dos rios. Muito além, uma revoada de pássaros, voando em perfeita
formação, certamente buscando água. No sertão é assim, sempre se busca uma
fonte. Pedro ainda não sabia a razão de tanto amor que sentia pelo sertão, esquecido
por alguns. Seguiu viagem e, na solidão, ligou o rádio para escutar alguma
notícia. Ao sintonizar a rádio, o locutor falava de crises econômicas, maus
políticos, de comunistas que queriam tomar o poder, enfim, coisas banais que
ainda hoje se escutam nesse País de extraordinária beleza. Desligou o rádio e
em silêncio imaginou, onde estaria dali a cinquenta anos. Lembrou-se de um
grande amor que apesar de não dizer, seu espírito o escondia, o abrigava e o
fazia sofrer, lembrando que toda felicidade é passageira, mas a saudade dura à
vida inteira. Pedro sonhava que um dia poderia estudar em uma faculdade, e
formar-se doutor, quais os filhos do coronel João Rodrigues e, mesmo absorto em
pensamentos, percebeu uma falha no motor do carro. Parou e examinou o que teria
acontecido. Não descobriu o defeito, até porque nada entendia de mecânica de
carro. Horas depois, cansado e quase sem esperanças de sair dali, observou que
bem perto, a cem metros, havia uma casinha que mais parecia um pombal. Ainda
era manhã num dia banhado de sol. A acauã piava bem perto e a cigarra cantando
anunciava mais um dia sem chuva, a beira da estrada árvores secas e retorcidas
abrigavam pequenos calangos que buliam nas folhas mortas pelo calor. O Jipe
estava num declive e, empurrando estacionou em frente casa, buzinou, gritou, mas, ninguém atendeu e
quando havia desistido avistou na pequena varanda da casa, um homem se
embalando numa rede. Pedro achou estranho não tê-lo visto antes, mas o
cumprimentou dizendo: — Você estava aqui e eu nem vi. — É eu estava aqui, afinal, todo
lugar é aqui, respondeu o
homem. Juntos riram muito e o simpático homem se apresentou dizendo chamar-se
Bento. Pedro foi convidado a pernoitar na casa de Bento. Aceitou prontamente,
pois aquela região era perigosa
para viajar à noite e além de tudo o carro não estava em boas condições. Bento
foi à cozinha e Pedro permaneceu na varanda de onde ouvia Bento falar: — Faz
muito tempo que não chove por aqui. Ainda hoje preciso alimentar as cabras com
canafístula. É uma boa ração e faz aumentar o leite. Tem água aí no pote, se
quiser, pode beber. Você gosta de mel de abelhas? — Sim, gosto muito! —
respondeu Pedro. Parecia que se conheciam havia muito tempo. Pedro sentia
grande alegria em falar com Bento, que conhecera há alguns minutos. A voz
branda e pausada daquele homem transmitia paz e harmonia trazendo uma impressão
indizível de felicidade e paciência. Pedro achava-o diferente de todos os
homens que conhecera. A casa refletia a ele mesmo, muito simples e Pedro não
conseguia entender porque antes não havia visto aquela casa e seu morador. As
paredes de barro, rachadas indicavam ser uma construção muito antiga. O teto
era de palha de carnaúba e tinha três cômodos: sala, quarto, cozinha e uma
pequena varanda. Em cada compartimento cabia no máximo três pessoas. As portas
sem trinco feitas de cipó e palha, o piso de chão batido. Fora da casa existiam
dois pés de bouganviles com flores brancas e vermelhas que, entrelaçados sobre
a casa, formavam uma paisagem luminosa, um quadro de indelével beleza. A uns cem metros, podia ver o
curral das cabras de onde se escutava o berro dos animais e sentir o cheiro
característico. Na varanda havia um pote de barro com água fresca e sobre ele
duas cuias utilizadas para beber água vinda de uma fonte no alto da montanha
que só Bento sabia como chegar lá. A mesa de jantar era uma tábua de aroeira
com duas cadeiras feitas de argila em forma de banco, tudo bem arrumadinho parecendo
que Pedro já era esperado. Na cozinha havia um fogão a lenha, panelinhas, pratos
e travessas. As colherinhas trabalhadas artesanalmente eram feitas de angico
branco, madeira nobre do sertão. Esses objetos, simples e singelos pareciam
feitos pela própria natureza.
Bento era um homem alto com pele queimada pelo
sol do sertão, vestia calça velha arregaçada até os joelhos, camisa xadrez com
alguns furos que permitia enxergar seu corpo negro e enrugado, característico
de quem em demasia se expõe ao sol, nos pés usava alpercatas de couro. Quando
Pedro perguntou sua idade, respondeu que era mais velho que a Terra. Tinha
semblante sereno transmitindo sossego e propagando pura energia, sorriso de
criança e uma barba longa e alva qual a flor do algodão. No poente despedia-se
a tarde dourada. Sentaram-se à mesa, para o jantar. Em pratinhos de barro, foi
servido: queijo, canja, coalhada e mel de abelha jandaíra. A canja feita de
avoantes, aves que naquela estação do ano migram da África para o Nordeste
brasileiro para acasalamento e depois, as que o homem não come, voltam para lá.
Sorrindo comentava Bento. O mel era colhido ali bem próximo, só precisava saber
colher no tempo certo. No sertão é assim, só não tem tempo certo para a chuva.
A coalhada e o queijo eram feitos do leite das cabras que Bento criava. Num solene
movimento postaram as mãos, abaixaram a cabeça e permaneceram em silêncio como
que agradecendo a Deus pelo alimento recebido. Após o jantar sentaram-se no
terreiro em frente a casa sobre esteiras de palha de carnaúba. A noite chegou
suave tal um aroma e o silêncio desceu brando como o pouso de uma garça. O céu
apareceu atapetado de estrelas, a lua resplandecendo com fulgurante beleza. Pedro
contemplava o céu e Bento olhava-o com admiração. Pedro queria saber se Bento
estava feliz naquele lugar e Bento sorrindo, pediu para Pedro olhar o céu, as
estrelas, a lua, para sentir a força do Universo. Pedro com os olhos fixos no
céu sentiu vibrar seu corpo e viu uma grande luz a espargir-se sobre ele.
Sentiu-se viajando pelo espaço infinito sem perceber o peso do corpo,
sem ver passar o tempo. Momento de bem aventurança, de interação com a
natureza divina. Pedro contemplava Bento que se confundia com a claridade enxergando
sua imagem no Universo, sua figura humana se expandindo no céu sem fim,
enfeitado de astros e brilhantes estrelas. No céu surgiram dois homens de
inenarrável beleza, deram-se as mãos formando um grande círculo pelo céu conduzindo
Pedro às mansões do Universo, visitando astros e estrelas na órbita do sol e
muito além. Pedro sentiu-se pequeno e entendeu que também fazia parte do Todo.
Abriu
os olhos e a manhã despertava num sorriso de luz do sol, procurou o velho Bento
encontrando-o sorrindo. — Sim, sou feliz aqui nesse lugar, respondeu Bento. Pedro
refletia sobre a felicidade que enchia seu coração, sentindo-se próximo de
Deus. Não encontrou palavras para falar daquele momento, mas guardou para si o
que entendeu ser, um encontro com o Criador. Chegou o momento de despedir-se do
anfitrião, visto que Pedro precisava seguir viagem. Por longo tempo permaneceu
abraçado a Bento, sentindo o cheiro do homem do sertão, e naquele abraço o silêncio
dizia tudo. Pedro não queria viajar, dizer adeus, mas em silêncio entrou no
carro com os olhos molhados de lágrimas sentindo saudades. Permaneceu em
silêncio que é como melhor se chora, se ama e se fala ao coração. Sem explicação o carro não apresentou
defeito e Pedro prosseguiu viagem. Aquele inesperado encontro ficou marcado
para sempre em sua memória, ciente que não existe acaso, tudo é vida, mistério.
Véspera
de Natal, Pedro resolveu retornar em visita ao amigo Bento. Estava a mil
quilômetros de distância, mas agora, com um carro mais potente viajaria com mais segurança.
Atravessou o sertão com vontade de chegar e abraçar o velho Bento, quanto mais
se aproximava, mais alegria sentia, embora a estrada parecesse longa e
infindável. O que Pedro não havia perguntado ao velho Bento, agora queria indagar,
desejava abraçá-lo e dizer quanto o amava, respeitava e admirava, pois dele recebera
o maior ensinamento de sua vida, e dizer também que queria aprender muito mais
ensinamentos. A cada curva da estrada, parecia vê-lo acenando. Sentia alegria, imaginando
poder estar sentado a seu lado e, quem sabe, viajando outra vez pelo Universo.
Pensamentos voavam e, sentimentos de expectativa o afligiam quando finalmente
chegou ao tão esperado lugar, a casa do velho Bento. Olhou em volta, procurou a
casa e não encontrou nenhum vestígio que alguém tivesse morado ali. Levantou a
cabeça, olhou o tempo e escutou o silencio do Criador sentindo que Bento havia
deixado ali sua pura energia.
Quando se voltou enxergou os dois bouganviles
entrelaçados, floridos e acarinhados pelo vento suave e lembrou-se do abraço do
velho Bento Tocou nas flores quando murmuravam, olhou para o céu e voltou a
sentir um saudoso raio de alegria lembrando-se que o abraço do velho Bento se
eternizara. Tempos depois, numa tarde de céu azul ao sobrevoar o imenso sertão,
indo para o Norte do país imaginou o amigo acenando com os braços abertos, formando
uma estrela e sua voz ecoando no universo, dizendo: Todo lugar é aqui.
Fragmentos do livro “O mundo de Pedro”
Antonio de Albuquerque
segunda-feira, 4 de abril de 2016
Ciência e Evolução
Quando o homem vem a Terra necessitando de luz para enxergar e livrar-se dos
laços negativos existentes no planeta, chega como se estivesse dentro de uma
caverna de costas para a luz, aceitando a sombra como realidade, somente
enxergando o que pensa ser real, razão do seu distanciamento do saber. No
entanto, existe um método capaz de expandir sua compreensão, que são as observações
sobre os fenômenos da natureza. Essas verificações começam pela observação dos
reinos; mineral, vegetal e animal. O contato direto com esses elementos da
natureza faz o homem desvendar mistérios e descobrir segredos da natureza. A expansão
da memória do homem acontece pela verificação no seu próprio corpo, começando a
conhecê-lo direcionando a busca por meio do pensamento para a sua mente, onde
está armazenado o conhecimento, sendo esse um atributo do espírito que lhe foi concedido
pela natureza no momento da criação. Quando o homem utilizar o saber guardado
em sua memória adquirido por experiências e recordações, certamente encontrará
a direção certa para seu aprimoramento moral, ético e intelectual, essas são condições
indispensáveis para desfazer-se das imperfeições. Por falsas interpretações e
carência de conhecimento algumas religiões sentem dificuldades para nortear o
homem e afastam-no da realidade. Homem e religião, ambos estão sujeitos ao fanatismo
religioso, sendo esse um dos laços perversos existente na Terra distanciando o
homem do pensar sua realidade, mas nem mesmo por essa razão as religiões deixam
de trazer grandes benefícios, e na maioria das vezes indicam o caminho certo
independente quais sejam elas. Quando o espírito vem à terra a fim de receber
um corpo, traz como objetivo essencial o aprimoramento que rebeberá através da
ciência, até reconhecer o Criador, tornando-se um espírito evoluído preparando-se,
então, para guiar outros espíritos menos aprimorados. Em longo processo para
conhecer a si, o outro e a natureza, o homem sendo parte dela poderá um dia chegar
a conhecê-la plenamente permanecendo na
mesma frequência, unido a um só pensamento, natureza e homem, formando um só,
tal qual o Sol. Embora saibamos que o espírito só chegará a um avançado estágio
evolutivo, após viver milhares de experiências recebendo transformações pelas
quais passa ele e a Terra, construindo um ser menos vulnerável, mais sensível,
amoroso e manso. Quando o Criador determina a vinda de um mensageiro a Terra, entre
tantos; Jesus, Salomão, Buda, Maomé, Gabriel, Alá, Moisés. Esses mensageiros vêm
mostrar que pelo conhecimento o homem pode realizar feitos inimagináveis mesmo dentro
de sua limitada evolução. Esses Mestres ensinam que sendo o espirito detentor
de atributos ainda desconhecidos por muitos, outrora tidos como milagres, hoje,
são explicados pela ciência quântica. Mas, para
entender a natureza é preciso respeitá-la, observando alguns fenômenos tais como
o nascer e o por do sol, as estrelas, e lua, procurando entender os reinos, mineral,
vegetal e animal, sendo esses reinos observados, pode o homem descobrir que para
evoluir necessita do conhecimento contido nesses reinos da natureza. O Sol nasce
todos os dias ao longo de bilhões de
anos, trazendo luz, clareando a todos em todos os lugares do planeta sem distinguir
lugar, criaturas, raça ou cor. Um animal por mais minúsculo que seja até mesmo
uma monera ou um homem por mais saber que possua, também precisa receber a luz do sol. Desde a criação da
Terra, o Sol vem clareando suas matas, campos, águas e animais, e mesmo sendo o
homem parte integrante da natureza ao longo de tantos mil anos ainda não foi
capaz de evoluir suficientemente para reconhecer seu lugar junto à natureza
para conhecer a si e ao outro. Embora conectados ao Criador, alguns homens não percebem o que estão a fazer na
terra, esqueceram-se de sua missão e, embora sejam filhos do mesmo pai, não se
reconhecem como tal, agredindo e destruindo o planeta.
Esses senhores deixam-se dominar pelas
coisas mais precárias; orgulho, inveja e ciúme, procuram dominar as minorias
que, corrompidas também corrompem, sendo o mal que tem maiores tentáculos de
dominação sobre a civilização. Em algumas religiões o fanatismo tem domínio
absoluto sobre alguns dirigentes e prosélitos, que cegos pelo orgulho, que é pai
de todos os males, e o domínio sobre seus seguidores, denominados de rebanho. São
esses rebanhos na grande maioria fanatizados obedecendo sem conhecer o objeto
perverso de sua crença. Os que inocentemente se transformam em sectários nem
percebem e compram a um alto preço em ouro a salvação num céu imaginário de um
deus irreal que está dentro de suas tenras compreensões. Assim alguns homens
vivem na terra sem conhecer o sentido
real de sua existência que é a busca do conhecimento. Um dia, porém, todos conhecerão tudo quanto
existe na Terra e nas moradas do Universo, e se tornarão todos os homens,
verdadeiros.
segunda-feira, 28 de março de 2016
A Adoção
A infância de Pedro foi marcada por acontecimentos
fortes que muito contribuíram para, no curso de sua vida, tornar-se um homem
solidário forjando um forte caráter. Ainda criança vivenciou o sofrimento e a
morte do irmão Israel. Um menino de oito anos que vivia feliz em seu mundo de
imaginação e ternura. Subia a montanha para contemplar o vale, os prados e a
revoada dos pássaros sobre o imenso sertão, espetáculo que acontecia com
frequência nos meses de maio e junho, período de colheita de mel nas encostas
das montanhas. Na fazenda, assistia as vaquejadas, corridas de cavalos e
brincadeiras com gangorras. Era então, uma época de bonança e prosperidade no
sertão. No entanto, ao longo de uma estiagem as fontes d’água se esgotaram, e
consequentemente a vegetação secou, os animais morreram, e a alimentação
escasseou. Israel perdeu a alegria para
exercer as brincadeiras de criança e permanecia na esperança que o pai
regressasse da caatinga trazendo algum alimento, mesmo que fosse um preá, um
passarinho ou até a raiz de algum vegetal resistente à seca, que servisse de
alimento. O pouco alimento que obtinham era dividido entre a família, sem
esquecer-se dos vizinhos, também famintos. Algumas vezes a mãe cedia seu
alimento para um filho permanecendo sem alimentação. Ao anoitecer se reuniam no
terreiro da casa, sob a luz da lua e estrelas, agradecendo a Deus por ainda estarem
vivos. Quando não existiam possibilidades de sobrevivência nesse lugar, o pai se
ausentou procurando uma fonte de renda em uma frente de trabalho mantida pelo
governo. Precisava trabalhar receber o pagamento que seria efetuado em
alimentos e voltar a tempo de encontrar a família incólume. Com a viagem do pai
a família permaneceu aguardando seu regresso, mas após alguns dias, Israel já
debilitado, tendo frequentes desmaios, e ao voltar à consciência dizia para a
mãe que o céu era lindo e que ela não perdesse o ânimo, pois o pai voltaria. Em
dado momento Israel não resistiu e faleceu. Dias depois quando o pai voltou em
socorro da família, o corpo do filho estava sepultado próximo a uma frondosa
aroeira. O pai, ajoelhado ao pé da árvore, agradecia a Deus por ainda estarem
vivos os outros membros da família. O sertanejo tinha um semblante de
sofrimento e dor, com olhos umedecidos contemplava o campo que outrora fora
colorido pela relva, flores e borboletas. Mesmo assim amava o lugar, era sua
terra, sua morada, seu sertão, seu mundo. O valente homem com olhos fixos no Sol
pedia para enxergar o caminho. Ele possuía inabalável fé em Deus e sabia não estar
sozinho. Diante daquele cenário de desalento, o casal fez uma avaliação e
concluiu que necessitava tomar uma decisão, embora difícil, mas que poderia
amenizar a angústia. Os pais resolveram dar para adoção o filho Pedro. Temiam
que ele, mesmo sendo um garoto sadio, tivesse o mesmo destino do outro filho, que
não resistiu à estiagem. Existia uma família com condições financeiras para
criar Pedro que havia demonstrado
interesse em adotá-lo. Seus pais, que antes resistiram à ideia, agora pensavam
em salvar a vida do menino, por saberem que o filho seria alimentado e salvo da
morte por inanição. Os pais tinham consciência que aquela decisão seria a mais
difícil de suas vidas. Era noite e Pedro dormia. Os pais conversavam baixinho,
a mãe chorava embora convicta que aquela seria a melhor solução. O pai a
consolava, dizendo que seria melhor para o menino. Ao amanhecer a cigarra
cantando anunciava um dia sem chuva e calor abrasador. A mãe olhando o filho famélico,
nada possuía para saciar-lhe a fome. O pai no terreiro fitava o Sol dizendo: — Oh! Deus Sol, abençoa-me, faz cessar minhas
lágrimas e angústias, ilumina meu caminho, preciso de força e coragem. O homem
falava com Deus pedindo sua compreensão por ter que tomar aquela deliberação.
Ele não se sentia desamparado por Deus, mas sofria com os olhos pejados de
lágrimas. No entanto, firmava o pensamento querendo resolver o impasse. Ao
romper da aurora, sem pressa o casal
caminhava numa estrada estreita entre arbustos secos e contorcidos pelo intenso
calor. Ao longo da estrada avistavam-se carcaças de animais que haviam perecido
pelos efeitos da seca, calangos buliam nas folhas debaixo das árvores mortas, no
alto o Sol parecia uma manopla de fogo. O pai seguindo à frente, Pedro ao lado com
passos curtinhos de criança, ainda não entendia porque havia deixado para trás,
a casa e os irmãos. A mãe amiudava os passos, por não ter pressa nem lágrimas,
e caminhava lentamente, mas era forte qual pau de aroeira. O menino, ora ao
lado do pai, ora da mãe, ou nos braços de ambos, não entendia o porquê de tanta
aflição. O coração batia forte, sentindo medo de se separar dos pais. Na sua
compreensão se houvesse uma separação seria o fim de sua vida. A mãe havia
falado que ele ficaria apenas por uns dias morando na casa de dona Mendonça e
com a chegada da chuva voltaria para casa, porém Pedro se sentia rejeitado e
chorava baixinho para ninguém ouvir seu lamento, tinha aprendido que homem não
chora. Mera ilusão. A mãe abraçava o filho, sentindo o pulsar do corpinho raquítico
naquele momento de tristeza. Havia perdido um filho e sentia estar perdendo
outro. Chegara o momento de entregar Pedro para adoção, o que lhe magoava o
coração tão sofrido. Depois de uma curva na estrada, avistaram uma casa branca
de varanda com algumas roseiras e a mãe falou para si mesma: — Como ela pode
ter uma roseira, se não temos água nem para saciar nossa sede? ─ Tudo que eu
não queria está se consumando, falou baixinho para si. A
mãe não tinha lagrimas para chorar, apenas baixinho articulava palavras.
Finalmente pararam, e em silêncio entreolharam-se, mantiveram-se calados e, a
chorar se abraçaram. Dona Felina, a mãe, não queria aquela separação, as poucas
lágrimas que surgiram molhavam seu rosto cansado. Ela não reclamava, apenas
chorava por ter de abdicar do filho, mas em seu coração de mãe amorosa existia
alguma esperança. Talvez dona Mendonça tivesse mudado de ideia ou não estivesse
em casa, mil pensamentos borbulhavam sua mente esperançosa e valente. —
Santíssima mãe escuta minhas preces, me poupa dessa aflição! Rogava a aflita
mãe.
De repente o céu foi tomado por nuvens pesadas com
relâmpagos e trovões anunciando uma chuva. Extasiados contemplavam a força da
natureza. Havia dois anos que não chovia. Subitamente nasceu entre eles uma
infinita esperança, uma extraordinária força, uma nova perspectiva, a chuva, a
água, a vida. Surgiu do mar de lágrimas daquela mãe uma imensa felicidade.
Pingos d’água se espargiam sobre eles quais fragmentos de vida. A água penetrava na terra gretada da estrada.
Momentos depois, molhados, famintos, abraçados, felizes e sorrindo caminhavam
de volta para casa. O menino corria à frente dos pais com um corpinho
macérrimo, esfaimado, mas cheio de esperança e alegria, sentindo o cheiro da
chuva ofertada pela natureza. No sertão é assim, quando chove tudo se renova,
todos voltam para suas casas, para plantar a semente do milho e do feijão. A
esperança renasce, os campos enverdecem, as flores desabrocham, os homens e
animais se alegram com a mudança. A chuva transformou o lugar estéril num
gracioso vergel entre campos verdejantes e floridos. A catingueira florou, as
roseiras se abriram e, na encosta da montanha, os ipês mostraram flores lilás, azuis e amarelas. Os
pássaros cantando anunciavam um novo momento de progresso no curso do tempo. Criança
ainda, Pedro sabia que aquela manifestação era obra do Criador mostrando sua
sublime grandeza. Permaneceram no sertão por algum tempo voltando a usufruir de
tudo que possuíam antes; plantações de milho, feijão, algodão, um açude com
muita água, gado, cabras, ovelhas pastando no campo e a alegria de ser feliz. Nas
noites lindas naquele belo lugar, especialmente em dias de lua cheia, quando a vitoriosa
família se reunia no terreiro da velha casa de tijolo aparente ao resplendor da
luz da lua. O pai, dedilhando as cordas de um violão, tocava lindas canções
sertanejas. Contavam belas histórias lembrando como haviam sido vitoriosos
diante dos desafios e como havia sido fácil vencer. A mãe contemplava o céu
estrelado, lembrando-se das palavras do filho Israel que havia partido: — Mãe,
o céu é tão lindo! O pai ao dedilhar as cordas do violão falava palavras que
lhe vinham à mente congestionada por sentimentos de vitória e gratidão ao
Criador:
Na venturosa e efêmera vida
Quando em matéria densa
Do imortal espírito
O sofrimento é
a semente
O fruto é a esplendorosa salvação
Da consciência de todas as existências
Que acolhe inumeráveis recordações
De ditosas passagens pela terra
Caminho para desvendar mistérios
Nas mansões do infinito Universo
Numa ternura que alenta a vida
Por uma sublime
e nova lição
Desarraigando as
imperfeições
Buscando a felicidade
e alegria
A
Bem-aventurança.
quinta-feira, 17 de março de 2016
Abigail
Abigail era uma belíssima mulher admirada por muitos rapazes
na cidade onde vivia. Em suas reflexões havia descoberto o poder da palavra que
tangida pelo pensamento poderia transformar sua vida e, assim mantinha firme determinação de tornar-se uma mulher ricamente
poderosa pelo exercício dos pensamentos e palavras positivas. Abigail era uma
jovem bem sucedida trabalhando como vendedora numa loja do interior do seu
Estado. Com presteza e dedicação atendia os clientes, e em momentos de lazer, incessantemente
pensava e escrevia, Hei de vencer, repetindo essas palavras todos os dias,
mantendo sua mente ocupada em planos futuros quando se tornasse milionária. Certo
dia descobriu que o comércio de madeira nobre era um bom negócio e começou a
exportar madeira, e em poucos anos havia construído um grande patrimônio,
tornando-se a mulher bela e poderosa que
sempre sonhou. Abigail tinha quarenta e dois anos de idade e lembrou-se que
havia chegado o momento de constituir uma família. Casou-se com Leonardo um rapaz
de baixa renda com apenas dezoito anos de idade. Abigail não considerou a
questão da diferença de idade visto que desejava casar com um homem mais novo,
vigoroso, inteligente e de boa índole com capacidade para gerir sua empresa. Ao
assumir o empreendimento Leonardo teve um bom desempenho e logo se tornou um
hábil empreendedor comandando todos os negócios e também desviando recursos
para si e terceiros levando a empresa à falência mostrando que não possuía
todas as qualidades que Abigail enxergara. Leonardo foi embora, e Abigail
perdeu tudo, voltando a sua antiga profissão de vendedora. Será que Abigail se
esqueceu de alguma coisa colhida nas
suas meditações?
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