Antonio
de Albuquerque
Sonhando
Acordei com saudade tendo a sensação que em sonho
visitei um passado muito distante. Essa era a impressão. Pela janela do Tapiri
ouço a algazarra de crianças a brincar, embora adore crianças não consigo boa
concentração escutando o encantador rumor que fazem, parecendo passarinhos
chegando aos seus ninhos. Nem consigo pensar, embora volte a sentir incontida
saudade e os pensamentos me conduzindo a idear lugares e pessoas que até penso
não conhecer. Dizem que ao dormirmos nosso espírito visita lugares, coisas e pessoas.
Creio nessa afirmação lógica, visto que fora desse corpo material possuímos
incomensuráveis atributos e possibilidades que ainda desconhecemos. Quando do
sonho ao corpo retornamos nada ou de quase nada nos lembramos. Não recordamos
em face da matéria pesada que ocupamos, assim afirmam os que procuram entender
o que é a matéria e o que é o espírito.
Quem sabe!
Caminhando pelas ruas deixarei para trás essa triste saudade! Pensei. Era cedo
e as ruas estavam quase desertas, apenas algumas pessoas caminhavam em direção
a reserva florestal Samaúma. Então, resolvi segui-las pensando encontrar um destino
para acalentar os pensamentos que me afligiam trazendo uma saudade doída. Caminhei entre floridas e bem cuidadas
alamedas circundadas por imensas arvores; Jatobás, Castanheiras, Samaúmas,
Imburanas de Cheiro, Caranapaúba, Pau-d’arco, Breu, Cajueiro, Jatobás e tantos
outros vegetais que agradam meus sentidos. A bela manhã sorria e o vento
acarinhava meu rosto com um sorriso de luz do alvorecer.
Resolvi então, sentar à sobra de um frondoso Jatobá
para melhor observar o aprazível santuário. Num profundo silêncio comecei a pensar
na perfeição da Natureza, imaginando que é no silêncio que choramos, nos
alegramos, sorrimos, amamos, gozamos e falamos com Deus. Folhas verdes guardavam
o orvalha da manhã que se derramava sobre galhos caídos, e acima deles minúsculos
insetos caminhavam, e entre tantos as formigas seguiam uma minúscula trilha de
contornos definidos penetrando nas rachaduras da terra úmida enriquecida por
nutrientes naturais. Estava eu completamente envolvido e embasbacado com o harmonioso
cenário, percebendo um mundo diferente em que eu me envolvera sem sentir nenhuma
ligação com o que experimentara antes; a saudade revelada. Ágora, pensava na
perfeição da natureza. Raios dourados do Sol penetravam por entre os saudáveis
galhos floridos do Jatobá, e a suave brisa da manhã afagava meu rosto tingido de
contemplação num esplendoroso acalanto da Natureza, meu coração vibrava de
felicidade e alegria. Adormeci sonhando.
Sonhando um sublime perfume, chegou
a mim
uma bela árvore em forma de homem nomeado de Breubranco, dizendo que sua resina
secretada, naturalmente da árvore é utilizada em pó queimado cuja fumaça é
usada para curar as dores de cabeça e insônia de criança espantada. O pó da sua
resina também é usado para tratar cortes no corpo. A fumaça do pó queimado do Breubranco
atrai boa energia e afasta a ruim.
Assim contou o homem que para
mim se apresentou narrando sua história, quando tudo iniciou na África setentrional
a milhares de séculos em um passado tão distante esquecido pelo homem.
Então, contou o
nobre visitante:
─ Nasci num
lugar na África setentrional, filho de um mandatário de uma nação muito
atrasada que acreditava em magia negra e vícios malfazejos, embora o rei fosse
um homem virtuoso. Eu era seu filho conhecido por príncipe Breu “o benfeitor”.
O rei era um sábio homem e a mim confiou à missão de tirar aquele povo da
ilusão. A natureza havia me dado o direito de ser um sensitivo e quando
visitava as tribos do reinado afastava a energia ruim que dominava os lugares, despedindo-a
com minha força mental, ainda que praticasse algum ritual para satisfazer a
compreensão deles. Sentido com o sofrimento dos súditos do meu rei, um dia pela
força da Natureza me encantei nessa árvore que sou, dando continuidade a missão
que me foi confiada, afastando das pessoas e, dos lugares, doenças e forças
maléficas, despedindo-as para outras dimensões.
Despertando com
o pensamento sonhando a beleza do verde da Natureza, com sentimento de alegria numa
ternura que alenta a vida, volto desse indelével passeio, e aqui da varanda do
meu Tapiri, enlevado escuto a chuva molhando a roseira, o vento ventando
alegria sentindo-me mergulhado nos encantos da misteriosa floresta, arco-íris,
seiva das belezas da vida, lembrando-me da figura encantada de Breubranco, o
benfeitor, com seu perfume e força curadora. Com os olhos banhados de lendas trouxe
de volta a alegria e a felicidade que nunca mais sairá de mim nem de você.
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