quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Santuário


FRAGMENTOS DO LIVRO, CAURÉ.

Antonio  de  Albuquerque

2007
Santuário

No alto o sol brilhava espargindo raios dourados tal uma manopla de fogo. Em seus ouvidos o doce rumor da água batendo nas pedras de uma cachoeira e o chiar de espumas crepitantes soltas no espaço formando um arco-íris de radiante boniteza. Pássaros coloridos voando tangidos pelo suave vento, e fervilhantes folhas e flores atapetando a terra vermelha enfeitada por cristais translúcidos. Caure se deparou com um rico santuário numa extensa planície formada por milhares de espécies de plantas medicinais e diversos animais que formavam a fauna e a flora desse lugar paradisíaco. Com plantas,  água, animais e insetos Caure falava e ouvia suas histórias. Ao contemplá-las ele sentiu uma imensa alegria e, não se contendo com tanta beleza exclamou:
Floresta, sublime inspiração,
Da natureza esplendorosa criação
Arco-íris, seiva das belezas da vida
Fonte de brilho, encanto e pureza.
Favorece o equilíbrio das matas
Guarnecendo as lindas cascatas
Floresta, firme cores da natureza.
Branca pureza imaculada
Azul cor do infinito
Verdes árvores de tuas matas
Amarelo das rosas e flores
Tela da natureza infinita grandeza
Símbolo de resistência e magia
Esperança real deste céu
Deste rio-mar
Desta terra retumbante
Depósito energético que a natureza encerra
Nas folhas, flores, caules, verticilos.
A brisa que sopra na folhagem
Conta mil segredos para a flor!
A natureza que acolhe e encanta
Diz serem tais, cantos de amor!
Tuas matas a natureza sente
Vibra, embeleza e emana chama ardente.
De singeleza, plasma eterno fulgor.
No trunfo imortal do soberano amor!
Floresta do rei Sol és filha
Luz pura e sublime formosíssimo puro amor
Transportando raios coloridos em águas cristalinas
A esperá-los nos rio igapós, igarapés.
Nas relvas das várzeas, coloridas.
Floresta do Sol recebe luz e calor
Pujante beleza, emoldurado vigor.
Da lua, acalma o sereno em forma de luz.
Alentando tuas plantas, da natureza.
A sublime vida eterna existência, a água!
Bendito o verde coruscante
Consagrada seja floresta guardiã do solo amado
Abafa o grito de dor da madeira ferida
Que a natureza te perpetue salutar!
Devolva-te todo o porte e a eterna magia
Recupere a árvore extraída...
O animal caído na mão do predador
Continue oxigenando a vida
Nossa abençoada remição.
 
Diante desse cenário, Caure iniciou um sábio diálogo com as plantas medicinais:
─ Olá, quem é você?
─ Meu nome é Urucum, combato o colesterol ruim e a gordura no sangue, minha semente quando transformada em corante adquire propriedade repelente afastando alguns insetos indesejáveis. Nasci na Amazônia, mas posso viver em outros lugares para onde a natureza determinar.
 Dessa forma, outras plantas foram se apresentando. Trovão preguiçosamente dormia à sombra de uma samaúma enquanto seu dono arduamente trabalhava para conhecer a serventia de plantas medicinais que ainda não conhecia.
Com  semblante de cansaço e preguiça por nada fazer, Trovão se aproximou dizendo...

sábado, 14 de novembro de 2015

Sonho de Menino

Novembro 2009
Antonio de Albuquerque
“Fragmentos do livro Caminho de Naidon”
Para Laura e Guilherme
Sonho de Menino
O menino sonhou falar com uma flor que morava no alto da serra, lugar misterioso para ele, porque o sol ao se despedir todas às tardes beijava a serra. O dia amanhecia numa canção de alvorada, o menino subia a montanha na esperança de se encontrar com a flor que havia visto no sonho. A flor naquela região era raríssima e só se mostrava na primavera, portanto seria um imensurável privilégio poder falar-lhe, e tinha pressa, sabendo que a flor se mudaria para outro lugar, conforme sua mãe havia lhe ensinado. Caminhava com passos miudinhos de criança, porém rápidos, temendo chegar tarde e a flor já haver se mudado de lugar. Exausto pela subida, resolveu sentar-se à sombra de uma gameleira para melhor observar, quando avistou a flor bem próxima. Foi tomado por uma surpreendente alegria, e dirigindo-se a ela, disse: — Olá, florzinha sonhei com você, por isso vim vê-la.
 — Eu sei! Nós nos encontramos em sonho, eu também quero lhe falar, respondeu a flor, ainda orvalhada pelo sereno do alvorecer.
 — Sim, é verdade, mas o que faz você nesse lugar tão deserto? Existem lugares onde você pode ser vista com mais facilidade e mostrar sua exuberante beleza e felicidade.
— Não estou sozinha, sou um enfeite da natureza, as outras plantas me fazem companhia e estou aqui para tornar esse lugar mais encantador, esta é minha missão. Em meu mundo encantado, sou vista por poucos, e você é um privilegiado por ter o direito de me ouvir. Em breve não mais estarei aqui, mas no curso normal de sua vida, você me verá e falará com outras flores e delas ouvirá bons conselhos. Nem sempre nos verá no formato de flor, por sermos encantadas nos mostramos como convém à natureza. Ao longo de sua existência, procure amar a vida, a liberdade e a natureza e, assim, terá momentos fascinantes em sua longa e brilhante vida.
— Sim, farei isso, mas não vá embora, dê-me a esperança que ficará aqui para falar comigo outras vezes. Eu me sinto tão só! Prometa não ir embora, eu preciso conhecer tantas coisas, você pode me ensinar o que é a vida, a morte, de onde vim, para onde vou. Assegure-me que nunca morrerá, não quero lhe perder.
 — As flores não morrem, a morte não existe, é só uma palavra, uma mudança, uma passagem, não é um final, só existe a vida. As flores são transportadas pela natureza a outros lugares para encantar. Assim como fazem os passarinhos, as borboletas e também, os vaga-lumes enfeitando as noites com pequenas luzes, anunciando um novo dia.
— Você é tão linda, amanhã voltarei a vê-la.
Num gesto de carinho beijou suas pétalas umedecidas pelo orvalho da manhã e prometeu voltar no dia seguinte ao nascer do sol. Com grande alegria, desceu a montanha sob um sol de manhã sorridente. Em sua mente conduzia à flor, imagem do amor florescendo em seu coração. Na manhã seguinte voltaria na esperança de encontrar-se com a bela flor.
 O sol dourava o céu quando o menino corando de alegria subiu a montanha e encontrou no lugar, um lindo pomar com belas flores, árvores floridas e outras carregadas de frutos e, madeiras com imensos favos de mel, mas não vendo a flor, permaneceu em silêncio a pensar: Você é tudo que eu vejo nesse vergel de grande beleza; a natureza, o amor, a grandeza, e é também você, o silêncio, o brado dos que não falam, pois é no silêncio que faço minhas preces, adoro o sol, as estrelas, choro e me alegro. Amo e falo com você, minha adorada flor. Com os olhinhos marejados, mas radiantes de alegria, e o pensamento sonhando, o menino contemplou aquele sublime encantamento, e guardou tudo em segredo por toda a sua infância.
 


segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Lembranças de Menino

 
 
 
 
10.11.15.
 
Antonio de Albuquerque
 
 Fragmentos do Livro – Gameleira -
Lembranças de menino  
Dona aqui está à chave do quarto, não mandaram o dinheiro e eu não poderei lhe pagar, porque se eu ficar só aumentará a conta.  ─ E a semana passada quem paga? Vou trabalhar e voltarei para lhe pagar. Dona Inês sabia que não iria receber. Fez um muxoxo dando as costas. Daí para frente o menino moraria na rua. O menino caminhou cinco quilômetros até o centro da cidade, cinco que pareciam cinquenta. Sentia-se fraco, precisava se alimentar coisa que não fazia há dois dias. A esperança era encontrar alguém que lhe oferecesse alimento, pois  sentia vergonha de pedir. Tinha, então, dez anos e havia descoberto que para enganar a fome, o melhor remédio seria não pensar nela. Assim, em duas horas de caminhada chegou à Praça do Ferreira; seu refúgio, onde passava o tempo sem olhar as horas no grande relógio da coluna central da praça para não sentir as horas de fome, por serem muito longas. O menino procurava postar-se de costas para o relógio que certamente, ainda hoje, lá se encontra. Não olhava os ponteiros do grande relógio, mas ouvia suas badaladas que o faziam lembrar-se da necessidade de alimento, amor e carinho. Então bebia água e sonhava com sua família, que por necessidade o abandonara. Sem entender o que o mundo lhe impusera, rezava uma oração, única, que sua amada mãe havia lhe ensinado; Pai nosso que estás nos céus... A tarde se esvaiu no relógio do tempo e a noite mansamente se apresou mostrando no céu as estrelas e o clarão da lua. O menino, ainda, acordado observava as pessoas passarem indiferentes à sua expectativa, mas mantinha a esperança de encontrar-se com a solução para sua vida e apressou-se a pensar, e dormiu.
Duas badaladas. Novamente o relógio acordou o menino. Um homem simples, com semblante calmo, sereno e de fulgurante beleza, estendeu-lhe a mão, na outra conduzia um saco de papel com dois pães lhe ofertando. O menino sentiu o cheiro, parecendo ser um manjar dos deuses e com alegria incontida, sorrindo, aceitou, e em segundos havia comido o delicioso pão. A fome passou! Disse o menino. ─ Quem é você? Perguntou. Sou alguém que também mora na rua. Tranquilize-se, nem todos nascem reis, se todos nascessem reis, quem seriam os súditos?Você, porém, um dia será um sábio homem. E quando realizar seus sonhos lembre-se do que eu lhe falei. Sim meu bom amigo, me lembrarei.  Disse, ainda, o bom homem, quando falo às pessoas elas nem me olham, mas quando me pedem alguma coisa eu as atendo, seja um pão, ou até mesmo um conselho. Agora, olhe o céu, as estrelas, fale com elas, peça alguma coisa, um dia você será uma delas. Sim, falarei; Então, o menino falou; estrela dê ao meu amigo velinho muitos pães para que ele possa distribuir com quem precisa mais do que eu, pois não mais sinto fome. O menino dormiu. O relógio badalou, o menino acordou, sem fome, sem medo, chamou o homem, mas não o encontrando, exclamou, nem sei o seu nome! Mas, o chamarei de estrela.
 
 
 
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