Novembro
2009
Antonio
de Albuquerque
“Fragmentos
do livro Caminho de Naidon”
Para
Laura e Guilherme
Sonho de Menino
O
menino sonhou falar com uma flor que morava no alto da serra, lugar misterioso
para ele, porque o sol ao se despedir todas às tardes beijava a serra. O dia
amanhecia numa canção de alvorada, o menino subia a montanha na esperança de se
encontrar com a flor que havia visto no sonho. A flor naquela região era
raríssima e só se mostrava na primavera, portanto seria um imensurável
privilégio poder falar-lhe, e tinha pressa, sabendo que a flor se mudaria para
outro lugar, conforme sua mãe havia lhe ensinado. Caminhava com passos miudinhos
de criança, porém rápidos, temendo chegar tarde e a flor já haver se mudado de
lugar. Exausto pela subida, resolveu sentar-se à sombra de uma gameleira para
melhor observar, quando avistou a flor bem próxima. Foi tomado por uma surpreendente
alegria, e dirigindo-se a ela, disse: — Olá, florzinha sonhei com você, por
isso vim vê-la.
— Eu sei! Nós nos encontramos em sonho, eu
também quero lhe falar, respondeu a flor, ainda orvalhada pelo sereno do
alvorecer.
— Sim, é verdade, mas o que faz você nesse
lugar tão deserto? Existem lugares onde você pode ser vista com mais facilidade
e mostrar sua exuberante beleza e felicidade.
—
Não estou sozinha, sou um enfeite da natureza, as outras plantas me fazem
companhia e estou aqui para tornar esse lugar mais encantador, esta é minha
missão. Em meu mundo encantado, sou vista por poucos, e você é um privilegiado
por ter o direito de me ouvir. Em breve não mais estarei aqui, mas no curso
normal de sua vida, você me verá e falará com outras flores e delas ouvirá bons
conselhos. Nem sempre nos verá no formato de flor, por sermos encantadas nos
mostramos como convém à natureza. Ao longo de sua existência, procure amar a
vida, a liberdade e a natureza e, assim, terá momentos fascinantes em sua longa
e brilhante vida.
—
Sim, farei isso, mas não vá embora, dê-me a esperança que ficará aqui para
falar comigo outras vezes. Eu me sinto tão só! Prometa não ir embora, eu
preciso conhecer tantas coisas, você pode me ensinar o que é a vida, a morte,
de onde vim, para onde vou. Assegure-me que nunca morrerá, não quero lhe
perder.
— As flores não morrem, a morte não existe, é
só uma palavra, uma mudança, uma passagem, não é um final, só existe a vida. As
flores são transportadas pela natureza a outros lugares para encantar. Assim
como fazem os passarinhos, as borboletas e também, os vaga-lumes enfeitando as
noites com pequenas luzes, anunciando um novo dia.
—
Você é tão linda, amanhã voltarei a vê-la.
Num
gesto de carinho beijou suas pétalas umedecidas pelo orvalho da manhã e
prometeu voltar no dia seguinte ao nascer do sol. Com grande alegria, desceu a
montanha sob um sol de manhã sorridente. Em sua mente conduzia à flor, imagem
do amor florescendo em seu coração. Na manhã seguinte voltaria na esperança de
encontrar-se com a bela flor.
O sol dourava o céu quando o menino corando de
alegria subiu a montanha e encontrou no lugar, um lindo pomar com belas flores,
árvores floridas e outras carregadas de frutos e, madeiras com imensos favos de
mel, mas não vendo a flor, permaneceu em silêncio a pensar: Você é tudo que eu
vejo nesse vergel de grande beleza; a natureza, o amor, a grandeza, e é também
você, o silêncio, o brado dos que não falam, pois é no silêncio que faço minhas
preces, adoro o sol, as estrelas, choro e me alegro. Amo e falo com você, minha
adorada flor. Com os olhinhos marejados, mas radiantes de alegria, e o
pensamento sonhando, o menino contemplou aquele sublime encantamento, e guardou
tudo em segredo por toda a sua infância.
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