sábado, 14 de novembro de 2015

Sonho de Menino

Novembro 2009
Antonio de Albuquerque
“Fragmentos do livro Caminho de Naidon”
Para Laura e Guilherme
Sonho de Menino
O menino sonhou falar com uma flor que morava no alto da serra, lugar misterioso para ele, porque o sol ao se despedir todas às tardes beijava a serra. O dia amanhecia numa canção de alvorada, o menino subia a montanha na esperança de se encontrar com a flor que havia visto no sonho. A flor naquela região era raríssima e só se mostrava na primavera, portanto seria um imensurável privilégio poder falar-lhe, e tinha pressa, sabendo que a flor se mudaria para outro lugar, conforme sua mãe havia lhe ensinado. Caminhava com passos miudinhos de criança, porém rápidos, temendo chegar tarde e a flor já haver se mudado de lugar. Exausto pela subida, resolveu sentar-se à sombra de uma gameleira para melhor observar, quando avistou a flor bem próxima. Foi tomado por uma surpreendente alegria, e dirigindo-se a ela, disse: — Olá, florzinha sonhei com você, por isso vim vê-la.
 — Eu sei! Nós nos encontramos em sonho, eu também quero lhe falar, respondeu a flor, ainda orvalhada pelo sereno do alvorecer.
 — Sim, é verdade, mas o que faz você nesse lugar tão deserto? Existem lugares onde você pode ser vista com mais facilidade e mostrar sua exuberante beleza e felicidade.
— Não estou sozinha, sou um enfeite da natureza, as outras plantas me fazem companhia e estou aqui para tornar esse lugar mais encantador, esta é minha missão. Em meu mundo encantado, sou vista por poucos, e você é um privilegiado por ter o direito de me ouvir. Em breve não mais estarei aqui, mas no curso normal de sua vida, você me verá e falará com outras flores e delas ouvirá bons conselhos. Nem sempre nos verá no formato de flor, por sermos encantadas nos mostramos como convém à natureza. Ao longo de sua existência, procure amar a vida, a liberdade e a natureza e, assim, terá momentos fascinantes em sua longa e brilhante vida.
— Sim, farei isso, mas não vá embora, dê-me a esperança que ficará aqui para falar comigo outras vezes. Eu me sinto tão só! Prometa não ir embora, eu preciso conhecer tantas coisas, você pode me ensinar o que é a vida, a morte, de onde vim, para onde vou. Assegure-me que nunca morrerá, não quero lhe perder.
 — As flores não morrem, a morte não existe, é só uma palavra, uma mudança, uma passagem, não é um final, só existe a vida. As flores são transportadas pela natureza a outros lugares para encantar. Assim como fazem os passarinhos, as borboletas e também, os vaga-lumes enfeitando as noites com pequenas luzes, anunciando um novo dia.
— Você é tão linda, amanhã voltarei a vê-la.
Num gesto de carinho beijou suas pétalas umedecidas pelo orvalho da manhã e prometeu voltar no dia seguinte ao nascer do sol. Com grande alegria, desceu a montanha sob um sol de manhã sorridente. Em sua mente conduzia à flor, imagem do amor florescendo em seu coração. Na manhã seguinte voltaria na esperança de encontrar-se com a bela flor.
 O sol dourava o céu quando o menino corando de alegria subiu a montanha e encontrou no lugar, um lindo pomar com belas flores, árvores floridas e outras carregadas de frutos e, madeiras com imensos favos de mel, mas não vendo a flor, permaneceu em silêncio a pensar: Você é tudo que eu vejo nesse vergel de grande beleza; a natureza, o amor, a grandeza, e é também você, o silêncio, o brado dos que não falam, pois é no silêncio que faço minhas preces, adoro o sol, as estrelas, choro e me alegro. Amo e falo com você, minha adorada flor. Com os olhinhos marejados, mas radiantes de alegria, e o pensamento sonhando, o menino contemplou aquele sublime encantamento, e guardou tudo em segredo por toda a sua infância.
 


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