ANAUÁ
Encontrei-me
com Palmari em 1990, em uma inesquecível expedição, quando juntos visitamos o Império
de Naidon, uma civilização que existiu há muitos mil anos. Em 2010 recebi uma
mensagem de Palmari que novamente pedia um encontro na mesma região, próximo ao
Pico da Neblina, lugar localizado na serra do Imeri, próximo à fronteira com a
Venezuela e Colômbia, sendo o ponto mais alto do Brasil com 2.994 metros de
altitude. A bacia amazônica onde o Amazonas está inserido é o resultante de um
mar; um golfo, entre dois escudos, duas plataformas formadas de rochas
primitivas, uma ao norte, formando o escudo das Guianas e outro ao sul,
formando o escudo do Brasil Central. Esse golfo abria-se para o oceano
Pacifico, fechando-se do lado Atlântico pelo escudo africano, que ainda não se
desmembrara das Américas. Isso aconteceu há mais de setenta milhões de anos. No
período terciário com a elevação da cordilheira dos Andes formou-se ali uma gigantesca
barreira onde existiam mares internos bloqueando a saída para o pacífico,
mudando sua direção para desaguar no Atlântico, formando a bacia amazônica.
Depois da separação do continente africano algumas transformações começaram a
acontecer; o aparecer e o desaparecer de civilizações, indicações rupestres
deixadas por povos antigos e energias que quando capturadas materializam
vivencias do passado. Com o avanço da ciência e tecnologia a pesquisa tornou-se
mais avançada e podemos contar sua história, embora ainda seja uma ínfima parte
do que esperamos conhecer. Há dois anos planejava fazer uma expedição nessa
região a pedido de Palmari que na vez passada trouxe ao mundo uma revelação que
vem mudando o rumo da história da humanidade. Privar da companhia desse ser é
um extraordinário privilegio, por ser ele conhecedor das florestas, das águas
dos segredos e mistérios dos quatro reinos da natureza, de civilizações e
culturas arquivadas no templo das lembranças das infinitas recordações.
Quatro horas da manhã, o comandante Silvestre
aquecia a aeronave, pois estaríamos num voo de pelo menos quatro horas. Um
avião de pequeno porte e São Gabriel um imenso município localizado nos confins
do estremo norte do Amazonas, nosso destino nessa viagem. Rapidamente nos
reunimos embaixo da aeronave, falei algumas palavras e decolamos. Éramos quatro
expedicionários, Silvestre, habilidoso piloto e conhecedor do extremo norte,
Ailã e Anajé conhecedores da floresta, e eu, determinado a cumprir uma missão.
Brevemente estaríamos reunidos com Palmari em algum lugar próximo ao Pico da
Neblina. Sobrevoando o norte do Amazonas sobre o Rio Negro admirava a Bacia
amazônica atapetada de águas e floresta detentora de segredos e mistérios da
natureza, e absorto em pensamentos, exclamei:
Floresta,
sublime inspiração,
Da natureza
esplendorosa criação
Arco-íris,
seiva das belezas da vida.
Fonte de
brilho, encanto e pureza.
Favorece o
equilíbrio das matas
Guarnecendo
as lindas cascatas
Floresta,
firme cores da natureza.
Branca
pureza imaculada
Azul cor
firme do infinito
Verdes
árvores de tuas matas
Amarelo das
rosas e flores
Tela da
natureza infinita grandeza
Símbolo de
resistência e magia...
Após
três pousos, chegamos à bela cidade de São Gabriel, localizada entre rios;
cachoeiras, corredeiras, ilhas, montanhas e santuários deslumbrantes. Lugar
onde seus habitantes falam o Português, Nheengatú, Tucano, Baníua, Baré e
outras dezenas de Dialetos, ensinados nas escolas, tendo uma população quase
toda indígena com uma extraordinária cultura. Cidade marcada por excelentes
instituições de ensino com a presença das Forças Armadas Brasileiras e dos
Salesianos, ricos na arte de educar. Silvestre guardou o avião, e nos dirigimos
ao hotel. Estávamos exaustos e Ailã
sentia ânsia de vômito, por não ser dado a viagens longas, mesmo assim, após o
jantar Ailã e Anajé se ausentaram para conhecer os pontos turísticos da cidade.
Eu e silvestre permanecemos no hotel planejando o dia seguinte que certamente
não seria fácil, dado o tanto que faltava para chegarmos ao encontro com
Palmari. Às quatro horas da manhã estávamos prontos e Ailã tinha o Land Rover
abastecido, pronto para a viagem. Serviam o café quando surgiu em minha frente
uma mulher dizendo chamar-se Anauá, pedindo para me acompanhar até a área do
Pico da Neblina. — Eu nasci e vivo nessa região, e sei o que procuras: disse
Anauá. — Como você sabia da expedição? — A cidade é pequena e o bem-te-vi traz
as noticias boas. Achei estranho, mas a expedição não era secreta. Consultei os
expedicionários, e eles consideraram sua utilidade como guia. Anauá embarcou e
o Lander Rover lotou. Estávamos na estrada com destino a Ya-Mirim, e por
indicação de Anauá, pelo atalho economizamos três horas e chegamos ao meio dia.
Em Ya-Mirim deixamos o Landerrover, e numa potente lancha turbinada viajamos
até Camaburis, onde armamos o primeiro acampamento. Anauá indicou um caminho e
chegamos a Bebedouro Velho. Era noite, e alegres festejamos o sucesso da
expedição, com uma oração brindamos e, ao criador rogamos sua benção. Chovia de
mansinho e nos recolhemos às barracas. Estávamos exaustos.
Meditava
estar distante de casa, nos confins da Amazônia, quando fui surpreendido por
inesperada visita. Anauá chegou a minha tenda, pediu para entrar e olhando nos
meus olhos disse: — Sou eu, seu guia daqui para frente. Nada respondi, porque
fiquei embasbacado, nem sabia o que dizer. Até então não prestara atenção à beleza
daquela mulher, porém ao olhar seus olhos senti uma energia transcendental,
estava diante de mim uma pessoa de radiante beleza e encantamento. Encantei-me
por ela sem ver o tempo passar experimentando uma felicidade e contentamento
que me fez viajar para o céu do meu inconsciente, sem lembrar as desventuras
que um dia senti. Tudo de Anauá naquele efêmero instante eu desejei, e sei que
nada eu obteria se não fosse por sua própria vontade. Quis tocar seu corpo, mas
desencorajado fui, pelo seu sublime olhar de pureza, e voz, envolvido por luminosos
raios de luz. Extasiado perguntei: —
Quem é você? — Sou servidora da casa do velho Palmari. Ainda hoje chegaremos a
sua casa, respondeu. — Porque não nos conduziu a sua presença? — Dele você terá
a resposta, respondeu Anauá. — Na aurora boreal seguiremos uma trilha e após
duas horas de caminhada estaremos com
Palmari que lhe aguarda para transmitir uma mensagem, concluiu a enigmática
mulher. Ailã e Inajé caminhavam à frente, Anauá indicava a direção e os mateiros
abriam espaço entre o sororocal e o palmeiral, parecia que os mateiros não
tocavam no chão, nunca havia visto homens dessa natureza. Era manhã radiante, o
Sol brilhava num céu azul sem anunciar chuva, proporcionando aos meus olhos e
sentidos uma deslumbrante manifestação da Natureza. — Como sabes estarmos na
direção certa? Perguntou Silvestre. — Pelo sinal de Anauá. — respondi. Assim
respondi por sentir que éramos guiados por Anauá. A cada passo a estrada se
alargava sentindo a felicidade se
expandir dentro de mim. Entre cachoeiras cristalinas, arco-íris, e plantas amazônicas
floridas; Cipó Mariri, Pau-d’arco, Castanheira, Mulateiro, Caranapaúba, Maçaranduba,
Apuí, Breu e Samaúma. Entre tantas não enxerguei a altura da Majestosa Samaúma
indo além das nuvens como se estivesse ligada ao Sol e estrelas no infinito. Encontrava-me
em um santuário, onde o cenário era a Natureza. Descobri estar penetrando em um
sagrado espaço, entre árvores milenares, plantas medicinais, um ambiente de
pura energia. Estávamos felizes e eu, lagrimando procurava entender à força da
Natureza. Raios do Sol como por encanto se transformavam em cristais formando
uma casa enfeitada com árvores e flores em forma de luz dourada, cascatas de
luz surgiam entre jardins suspensos num espaço de luz colorida, arco-íris se
projetavam no infinito céu. Anauá, Inajé, e Ailã tragados pela luz se
transformaram em entidades de outra dimensão. Sorrindo Palmari se apresentou, e
ao aproximar-se senti sua pura energia. — Eles foram ao seu encontro e você não
os reconheceu: O cavaleiro, Wanda, Bento e Naira e Anauá são a mesma luz e
estão sempre presentes em sua vida. A mensagem que lhe entrego é: Difundir para
a humanidade que o espirito encarnado pode e deve comunicar-se com o Universo
pelo pensamento captando ondas gravitacionais, escutando seres, ouvindo o Cosmo
colhendo ensinamentos, edificando um planeta de Paz. Cabendo a cada um
construir seu próprio ser usando como ferramenta a ciência. Essa é a mensagem
que só poderia ser revelada em um lugar de energia limpa em algumas regiões da
Terra. Concluiu dizendo: em breve nos veremos!
Estamos
regressando, sobrevoando belas cachoeiras, praias de areia alva qual a flor do
lírio, daqui pode-se sentir a calmaria da floresta, o piar dos passarinhos, o
silêncio do pouso da garça. —Veja Silvestre! Vem um avião em nossa direção. —
Trata-se de um avião militar, certamente caçando traficantes. — Vi seu olhar
para a bela Anauá! — Ela é encantada e mora muito distante da terra. —
Silvestre preste atenção ao voo, do contrário, eu não coopero com o
combustível. — Não conto com isso, você é pão duro. — Você seria capaz de
namorar a Anauá? — Não brinque coisa seria a gente nunca sabe... — Ah... Ela é
muito linda... —Veja! Que praia linda!!!