quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Buscando a Luz (1)


 

Antonio de Albuquerque

1984

Buscando a Luz (1)

Caminhava por fétidas galerias num ambiente estreito, tortuoso e escuro. A visão era ruim e não sabia onde pisava, tendo a sensação que cairia num despenhadeiro. Sem ventilação sentia dificuldade para respirar e tinha pensamentos vagos e abstratos. Não me lembrava da minha origem nem destino, sem noção de tempo, poderia estar ali há um dia ou a uma eternidade. A solidão e o pavor me acompanhavam. Sem entender, estava perdido num abismo sem perspectiva de encontrar a saída. Não lembrava ser uma pessoa e estava oculto numa completa escuridão física e mental, e não me situava no espaço e tempo. Sem lembrança do passado, não entendia o presente ou futuro. Mergulhado no esquecimento tinha apenas uma vaga lembrança da realidade. Muito tempo depois, no alto enxerguei uma luz clareando o espaço infinito, embora entre mim e essa luz houvesse imensa distância, me senti confortado enxergando além da nebulosa escuridão. Com o passar do tempo visualizei o céu atapetado de astros e estrelas, e observando esse santuário pude ver uma luz maior no alto. Para mim era apenas uma luz, por não lembrar seu nome, mas me agradou e fiquei espiando seu movimento. Depois me lembrei de que a luz vista era o Sol. Creio que em mim surgiu à lembrança naquele instante, visto que sua ausência me atormentava. Com o Sol nasceu o dia e a claridade, e não mais senti medo das trevas. Foi esta a primeira manhã que eu vi nascer, alegre e risonha, com intensa luminosidade. Na claridade do dia descobri a vegetação, que sobre ela a luz do Sol se espargia dourando suas folhas. Caminhando pelo lugar,  senti nos pés a areia macia, e na margem a relva cobrindo à terra molhada. A diversidade das plantas me alegrava  e tudo em volta me encantava, estava aprendendo a amar a natureza rica e bela. Aos poucos descobri a razão da minha existência, tal qual, a Luz, a água e a vegetação. Suavemente o vento tocava meu rosto, e mesmo sem conhecer sua origem  me contentava,  mas indagava para mim mesmo: Quem eu sou? De onde eu vim e para onde vou? E que lugar seria aquele? Dessa forma senti a necessidade de pensar e racionalizar, sendo esse um atributo que me aflorava na memória.

O Sol declinava deitando sua luz dourada no ocidente, outro fenômeno que eu desconhecia. Assistia pela primeira vez o por do Sol, e o surgimento da noite. Num breve momento enxerguei a formosa Lua, e seus movimentos. Agora podia contemplar as belezas da natureza; o céu, os astros, o Sol, e a Lua dominando a Terra e prateando o mar, a água correndo nos regatos e os animais passeando nos prados, nos campos, e nas lindas e risonhas manhãs. Havia encontrado a felicidade que seu esplendor, a alegria me ofertara. Mas precisava conhecer o arquiteto que havia construído essa Divina obra universal. Numa alegre manhã com o Sol dourando o amanhecer acordei ouvindo o trilar dos passarinhos, o sussurro da água rolando no ribeiro e árvores enfeitadas de flores e frutos formando um indelével santuário. Olhando para o alto vi o Sol nascer pela segunda vez. Permaneci nesse lugar por um longo tempo procurando entender a natureza, percebendo os sentidos, e as formas, construindo um profundo sentimento de amor pela fauna e a flora. Passeava pelas florestas, pelas águas, santuários e por distantes lugares, mas ainda havia uma questão que não entendia; a razão da minha existência. Resolvi então, empreender uma longa viagem. Após uma extensa caminhada por mares, rios, florestas  montanhas, e diferentes lugares, vendo diversas vezes o amanhecer e o entardecer, havia encontrado um lugar diferente de todos que havia conhecido. Um espaço que me fez parar e refletir sobre o pouco que recordara das minhas passagens pela Terra; minha origem, meu destino. A razão de estar naquele ambiente aflorou minha memória. Nesse lugar encontrei uma casa, hesitei ao aproximar-me, mas depois de algum tempo cheguei bem perto e ouvi um agradável som musical que me trouxe um turbilhão de pensamentos, lembranças e recordações de lugares,  pessoas, línguas, ciências e também de ilusões, entre rosas e espinhos. A ciência me conduziu à realidade, mas quanto às ilusões, suas lembranças e práticas me fizeram sofrer, afinal eu estava na Terra. Lembrando-me do passado, entendi o presente, marcado por sofrimentos, mas também por grandes venturas. Aproximei-me da casa, ela era azul, com janelas amarelas e cortinas brancas e verdes de renda que o brando vento esvoaçava pelo ar. Ali encontrei pessoas felizes, e ao entrar sorrindo carinhosamente  me abraçaram. Um homem me recebeu dizendo que eles me esperavam há  muito tempo, e que havia chegado o momento de sermos felizes. Eu lembrei-me que já os conhecia e chorei de contentamento.

Num ágape constante permaneci na casa por dias, convivendo com as pessoas que me receberam e aguardando  um grande acontecimento que guardavam como surpresa para mim. Certo dia, todos se apressaram para chegar à janela, queriam de perto ver o Homem que passava. Eu também apressurei-me para ver seu sublime rosto. Os homens caminhavam em fila indiana, um deles avançava à frente e os outros o seguiam. O Homem que vinha à frente tinha uma beleza inarrável, e seu semblante transmitia paz e harmonia. Vestia túnica branca, nos pés usava sandálias, e no coração trazia o amor e o  perdão. Com um só olhar Seu, senti toda a felicidade e alegria que eu merecia. Esse Homem é Jesus.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário