Misteriosa Cidade
Meio-dia. A luz do sol focou sobre a
pedra, a fenda se abriu e os viajantes penetraram numa misteriosa cidade
localizada entre planícies e montanhas de grande altitude com uma suave
temperatura. Caure contemplava o deslumbrante cenário, formado por campos
verdejantes tapizados de flores e gigantescos pássaros a sobrevoar a cidade,
águias, condores, gaviões, araras gigantes e outras aves desconhecidas voavam
sobre os prédios embelezando a cidade que parecia pertencer à outra dimensão.
Belíssimos animais desconhecidos caminhavam livremente pelos prados, animais
que viveram noutros oceanos em outros lugares do universo, espécimes que o
homem conhece como pré-históricos. Eles viveram na civilização de Atlântida e,
fora do planeta foram preservados por esse adiantado povo que no infinito foi
viver, libertando-se da pesada força da gravidade. Os prédios alinhados
mostravam uma perfeita simetria, uma engenharia divinamente bela com paredes de
cristal translúcido e luz solar. As construções se diferenciavam, porém
mantinham a mesma linha arquitetônica. Alguns edifícios se destacavam entre os
demais, um teatro, o palácio administrativo, um centro cultural e um grande
hospital, todos seriam mostrados posteriormente a Caure. A matéria com a qual
era formado esse lugar e tudo que nele existia era diferente da matéria que
forma a terra e seus habitantes. Tudo ali era diferente e misterioso.
A energia utilizada era captada do sol, de
forma que à noite grandes refletores transparentes e soltos no espaço clareavam
a cidade como se fosse dia. O Sol a Lua e as estrelas pareciam beijar o solo,
lembrando uma cidade cenográfica, mas tudo era real. Homens e mulheres
transitavam pelas ruas com alegria e viam a presença de Caure e Trovão com
naturalidade, e eles pareciam habitantes do lugar, a grande maioria das pessoas
parecia flutuar, outras pisavam suavemente no solo, envolvidas por uma luz
multicolorida. As naves espaciais que cruzavam o céu só eram vistas quando
desciam, ao subirem, segundos depois, tornavam-se invisíveis e silenciosas.
Tratava-se de um povo avançadíssimo em ciência e espiritualidade. Caure
desconhecia o que estava vendo, mas em sua memória sentia que aquele lugar não
lhe era estranho, provavelmente havia gravado na mente em vidas passadas, em
civilizações também avançadas que existiram na Terra e em outros lugares do
Universo.
Caure foi recebido em palácio e
apresentado aos dirigentes da cidade e percebeu que estava lidando com seres
altamente evoluídos, pois transmitiam uma boa energia e mansamente falavam a
mesma língua, mas também se comunicavam pelo pensamento; vestiam-se com roupas
leves, claras, quase padronizadas, mas com cores indescritíveis, pareciam seres
comuns, mas diferentes do povo da Terra, pois Caure percebia neles uma matéria
menos densa do que a nossa. Possuíam os sentidos mais aguçados que os nossos e
a alimentação básica era água colhida duma fonte cristalina vinda do espaço,
frutas, legumes e mel silvestre. Eles possuíam um corpo mais perfeito que o
nosso e viviam em harmonia entre si e a natureza. Finalmente Caure pôde abraçar
os pais que não pareciam envelhecidos e estavam ansiosos para voltar a Tutoia e
continuar o trabalho de proteção e conservação ambiental que realizavam ao
longo de gerações. Nir dirigindo-se ao filho
disse:
─ Sua mãe e eu acompanhamos sua trajetória
de vida ao longo desses anos que estamos separados. Nossa ausência física foi
necessária para que você sozinho passasse por grandes experiências e adquirisse
o conhecimento necessário para chegar aonde chegou. Queríamos que você se
tornasse um defensor das florestas e conhecesse a importância da água, das
plantas, dos animais e encontrasse a sintonia com a natureza. Junto a esse povo
avançado procuramos aperfeiçoar nosso conhecimento. Até esse momento nos foi
dado o direito de obter alguns ensinamentos que de alguma forma vamos
transmiti-los a outras pessoas, sempre em benefício da preservação do planeta,
porque salvando a Terra estaremos também livrando seus habitantes de muitos
sofrimentos, e temos isso como nosso dever.
─ O que mais vocês aprenderam junto a esse
misterioso povo? Perguntou Caure.
─ Viajando com eles a outros lugares no
universo tomamos conhecimento de algumas realidades, desse e de outros lugares
no espaço. Agora sabemos que na Terra não estamos sós. Existem outros lugares
habitados por seres com as nossas mesmas características, uns mais adiantados
que nós, outros que ainda precisam do nosso auxílio para evoluir. É o caso onde os homens estão destruindo os
recursos naturais, os ecossistemas e, se acabarem especialmente a água e os
micro-organismos não haverá mais condições de existir vida nesse espaço, mas
isso não acontecerá, pois estamos trabalhando no sentido de salvar o planeta
Terra, disse Nir.
Então, Nadina explicou ao filho:
─ Partindo dessa cidade base, viajamos em
naves espaciais em visita a outras moradas no sistema solar, conhecendo outros
povos e outros graus de desenvolvimento moral, científico, tecnológico e
espiritual. Muitas coisas que vimos ainda não podem ser reveladas, pois os
terráqueos ainda não estão preparados para entender. Através do pensamento
povos e luzes de lugares mais adiantados emitem ondas de energia positiva para
manter o equilíbrio da Terra, inclusive afastando da orbita terrestre milhares
de doenças que atingiriam esse planeta destruindo a inteligência de seres
vivos. Nós somos preparados por seres evoluídos para auxiliar os terráqueos a
manterem a harmonia e a paz e a passar por grandes transformações até seu povo
adquirir sabedoria suficiente para entender os fenômenos da natureza. Não nos
foi permitido permanecer em outros lugares mais desenvolvidos em virtude de não
estarmos preparados, material e espiritualmente para tanto, mas em breve
poderemos atingir esse grau de evolução. Nosso trabalho na conservação do meio
ambiente já é o caminho para adquirirmos um maior grau de evolução, nos
permitindo, um dia chegarmos a outros mundos habitados, naturalmente sem essa
nossa matéria pesada.
Lou fez a apresentação de todos que ali
estavam, dizendo serem eles cientistas pertencentes a outros mundos do sistema
solar que aqui têm a missão de preparar pessoas para o trabalho de preservação
ambiental e manter o equilíbrio e a paz entre os homens de compreensões
difíceis.
─ Quem e como deverão ser essas pessoas a
serem instruídas? Perguntou Caure.
─ Terão que ser pessoas bem-preparadas,
pois a peleja se dará em um teatro de operações onde a contenda será travada
com poderosas nações, cegas pelo poder e domínio, porém será um trabalho de
conscientização e nunca de confronto.
Para nós, as armas e os conflitos são coisas de um passado bem distante,
respondeu Lou.
A luz do dia foi esmaecendo e com a
chegada da silenciosa noite, cascatas de luz em cores envolveram o recinto onde
um seleto número de pessoas recebia o convidado Caure e aguardava um
pronunciamento de Lou. Num grande salão existia um globo terrestre suspenso por
raios de luz, ocupando o centro do salão. Com desenvoltura Lou explanava sobre
as áreas de risco marcadas no globo. Os lugares em destaque indicavam as
queimadas na floresta, regiões de água poluída, especialmente no continente
africano, depósitos de armas atômicas, laboratórios de armas bacteriológicas,
áreas de degelo nos polos, oceanos por onde navios e submarinos transportavam
ogivas nucleares entre tantos outros perigos que indicavam a situação de risco
na Terra.
Naquela ocasião, Caure recebia
cumprimentos daquelas misteriosas pessoas que num momento de encantamento lhe
desejavam boa sorte por ser ele mais uma criatura unida ao grupo na defesa do
meio-ambiente. Estava ele vivenciando um momento fascinante de pura magia. Tudo
ali era encanto e lembrava-se que quando criança a mãe falava de um paraíso
imaginário, onde tudo era perfeição, um lugar sagrado que abrigava as almas dos
seres privilegiados que haviam vivido na Terra. Ela chamava aquele lugar de
paraíso, um céu imaginário, por parecer tudo perfeito. Mas ali onde Caure se
encontrava ainda não era a perfeição.
Depois da cerimônia uma suave música
celeste envolveu o espaço e Lou sentou-se ao lado de Caure. Ele se sentia
extasiado pela música, pela beleza de Lou, e seu perfume suave como a brisa da
noite. Os olhos da moça, cor de esmeralda se destacavam em seu corpo sedoso e
macio que o fez esquecer por alguns momentos a floresta e seus habitantes. A
festa continuava no salão onde centenas de pessoas conversavam, mas Lou só
tinha olhos para Caure, ele era o homem mais bonito que ela havia conhecido em
toda sua longa existência.
No dia anterior Lou havia feito profundas
considerações sobre a natureza, adiantando que para
vencer a barreira da destruição feita pelo próprio homem dependia do
comportamento dele mesmo, nos próximos vinte anos. Destacou que os recursos
naturais estão sendo extintos. A água está escasseando em alguns continentes,
tudo levando a crer que se avizinham graves problemas ambientais. Considerava
ela que pouca coisa ou quase nada o homem fez para conter a destruição. Por
essa razão existe a necessidade de salvar a Terra para que ela possa completar
o penúltimo ciclo e chegar a um grande desenvolvimento científico, tecnológico,
espiritual e moral, preparando-se para um grande recomeço como aconteceu em
outros momentos da sua história.
Lou adiantou ainda que todos os conhecimentos
adquiridos pelo homem em épocas passadas estão armazenados na sua memória e são
recordados de acordo com as necessidades do momento e seu processo de evolução,
buscando dentro de si, a ciência para seu próprio desenvolvimento. Caure
gravava todas essas informação em sua mente e, diante dos lógicos ensinamentos
de Lou, estava cada vez mais consciente do valor da preservação dos recursos
naturais da terra e, recordou que aquela luta era milenar. Naquele momento ele adquiriu
o direito de lembrar-se de vidas passadas. Lou o fazia recordar sem traumas as
vidas anteriores. Então ele percebeu que ela com toda simplicidade era mais do
que uma simples criatura, era sim, uma mestra em magia, ciência e
espiritualidade, e por ela sentia um fraterno amor.
Lou pertencia a uma sociedade que possuía
alta evolução, vivendo num sistema onde o Estado não existia, uma sociedade sem
classes, pacífica, livre, sem propriedade privada. Um povo consciente, vivendo em comunidades, buscando o equilíbrio,
usando conhecimentos adquiridos desde remotas eras, quando no planeta existiram
civilizações altamente desenvolvidas, capazes de conquistas que o homem de hoje
apenas sonha obter. Na sua fala Lou expôs seus
pensamentos sobre a natureza e o que poderia ter sido feito para salvar o meio
ambiente, salientando que muitas espécies de vegetais e animais desapareceram e
outras estão ameaçadas.
Os efeitos da agressão ao meio ambiente
são os mais diversos; mudanças climáticas, ciclones, temporais, falta de água
potável, doenças tropicais, dificuldade na produção de alimentos e
consequentemente a fome. E, sobretudo o calor excessivo, destruindo a vegetação
e tantos outros males que assolam o planeta em decorrência da ausência de
sensibilidade ecológica do homem moderno, que mais está preocupado com armas
atômicas, guerras e domínio sobre as nações menos desenvolvidas.
Caure ouviu de Lou e cientistas presentes
que diversas espécies de plantas foram extintas por negligencia das autoridades
responsáveis e, citou como exemplo a derrubada de florestas para dar lugar à
construção de estradas, plantações, pastagens e retirada ilegal de madeira. Os
incêndios criminosos são comuns, provocados por pessoas insensíveis e cruéis.
Essas pessoas esquecem que as florestas tornam a temperatura mais branda, aumentam a umidade por
meio da transpiração das plantas, tornam as chuvas mais frequentes, renovam o
ar atmosférico durante a fotossíntese, liberam oxigênio para o ar atmosférico,
retiram o excesso de gás carbônico, diminuem a velocidade do vento e a
incidência direta da chuva no solo, reduzindo a erosão. Estas são apenas
algumas vantagens de manter a floresta em pé, e usá-la de maneira sustentável.
Caure sabia
que não estaria solitário na luta pela preservação
dos mananciais de riquezas naturais existentes, então, lembrou-se de voltar à
floresta. Trovão havia se envolvido com uma cadela e pouco ligava para o dono,
seu sonho era levá-la para casa e viver feliz para sempre, mesmo sem ter a
missão de procriar, pois era um encantado. Alimento e carinho não faltariam
para ela em Tutoia. Consultou o dono que prontamente aceitou. Trovão era uma
boa criatura; bem comportada, merecia uma boa companhia.
─ Muito espertinho, disse Caure ao
cachorro.
Trovão com cara de vítima respondeu:
─ Você também arranjou uma namorada!
− Chega de conversa, vamos voltar para
casa, sorrindo disse Caure.
Ao despedir-se de Lou, prometeu voltar em
breve, afinal à floresta onde morava não ficava tão distante, agora conhecia o
caminho, em Tutoia aguardaria a volta dos pais. Ficou surpreso quando Lou
informou que ele viajaria a bordo de uma aerovime, isto é, uma grande cesta de
vime que nas alturas era conduzida por uma águia gigante. Do alto, Caure
contemplava os rios e a floresta, confortavelmente a bordo, em companhia de
Trovão e a cadelinha Sukir.
Ao chegar a Tutoia, encontrou canoas
juntinha na beira do rio, em casa na janela estavam os pais, uma surpresa
promovida por Lou, Caure se sentia o homem mais feliz do mundo e pensava numa
boa caçada de marrecos no rio Iere em companhia do fiel cachorro. Caure se
encontrava num estágio de conhecimento do ecossistema da Amazônia que podia
mostrar para a humanidade, que a solução para os problemas ecológicos é o
respeito à natureza. Com as queimadas na Amazônia, cresce a emissão de
partículas no ar, que têm sido levadas para outras regiões do planeta, causando
o aumento da radiação solar. São tantos os malefícios causados pela agressão à
natureza na Amazônia, que providências deverão ser tomadas imediatamente, Caure
tinha plena consciência dessa realidade que afeta toda a humanidade.
Naquele momento, Caure deveria promover um
grande esforço para se aproximar das autoridades responsáveis pela preservação
da Amazônia, alertando-as sobre a importância da conservação desses bens
naturais. Na floresta poderia contar com a ajuda de novos aliados, isto é, Lou,
seu povo e todos os habitantes da floresta, pois tinham um compromisso de
estarem ao seu lado na difícil missão. Caure sentia saudade da convivência com
Lou, do seu olhar, da meiguice e da doçura, não conhecia outra ventura maior do
que essas lembranças. Boas recordações que gozavam de abstrato encanto enchiam
de amor o seu coração. Ele imaginava ter sido dos olhos cor de esmeralda de Lou
que Deus fez nascer o dia, irradiando grandeza e luz. Caure pensava no destino
que traça a caminhada dos homens no mundo. Se um dia o destino lhe concedesse a
ventura de viver com Lou, tornar-se-ia a mais feliz das criaturas e, juntos
construiriam um amor infinito, percorrendo o mesmo caminho. A imaginação
dominava sua mente e, junto aos pais desfrutava da alegria de viver em Tutóia,
mas muitos acontecimentos ainda viriam. Só o tempo, senhor absoluto do universo
poderia pressagiar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário