segunda-feira, 3 de março de 2014

Misteriosa Cidade


Misteriosa Cidade

Meio-dia. A luz do sol focou sobre a pedra, a fenda se abriu e os viajantes penetraram numa misteriosa cidade localizada entre planícies e montanhas de grande altitude com uma suave temperatura. Caure contemplava o deslumbrante cenário, formado por campos verdejantes tapizados de flores e gigantescos pássaros a sobrevoar a cidade, águias, condores, gaviões, araras gigantes e outras aves desconhecidas voavam sobre os prédios embelezando a cidade que parecia pertencer à outra dimensão. Belíssimos animais desconhecidos caminhavam livremente pelos prados, animais que viveram noutros oceanos em outros lugares do universo, espécimes que o homem conhece como pré-históricos. Eles viveram na civilização de Atlântida e, fora do planeta foram preservados por esse adiantado povo que no infinito foi viver, libertando-se da pesada força da gravidade. Os prédios alinhados mostravam uma perfeita simetria, uma engenharia divinamente bela com paredes de cristal translúcido e luz solar. As construções se diferenciavam, porém mantinham a mesma linha arquitetônica. Alguns edifícios se destacavam entre os demais, um teatro, o palácio administrativo, um centro cultural e um grande hospital, todos seriam mostrados posteriormente a Caure. A matéria com a qual era formado esse lugar e tudo que nele existia era diferente da matéria que forma a terra e seus habitantes. Tudo ali era diferente e misterioso.
A energia utilizada era captada do sol, de forma que à noite grandes refletores transparentes e soltos no espaço clareavam a cidade como se fosse dia. O Sol a Lua e as estrelas pareciam beijar o solo, lembrando uma cidade cenográfica, mas tudo era real. Homens e mulheres transitavam pelas ruas com alegria e viam a presença de Caure e Trovão com naturalidade, e eles pareciam habitantes do lugar, a grande maioria das pessoas parecia flutuar, outras pisavam suavemente no solo, envolvidas por uma luz multicolorida. As naves espaciais que cruzavam o céu só eram vistas quando desciam, ao subirem, segundos depois, tornavam-se invisíveis e silenciosas. Tratava-se de um povo avançadíssimo em ciência e espiritualidade. Caure desconhecia o que estava vendo, mas em sua memória sentia que aquele lugar não lhe era estranho, provavelmente havia gravado na mente em vidas passadas, em civilizações também avançadas que existiram na Terra e em outros lugares do Universo.
Caure foi recebido em palácio e apresentado aos dirigentes da cidade e percebeu que estava lidando com seres altamente evoluídos, pois transmitiam uma boa energia e mansamente falavam a mesma língua, mas também se comunicavam pelo pensamento; vestiam-se com roupas leves, claras, quase padronizadas, mas com cores indescritíveis, pareciam seres comuns, mas diferentes do povo da Terra, pois Caure percebia neles uma matéria menos densa do que a nossa. Possuíam os sentidos mais aguçados que os nossos e a alimentação básica era água colhida duma fonte cristalina vinda do espaço, frutas, legumes e mel silvestre. Eles possuíam um corpo mais perfeito que o nosso e viviam em harmonia entre si e a natureza. Finalmente Caure pôde abraçar os pais que não pareciam envelhecidos e estavam ansiosos para voltar a Tutoia e continuar o trabalho de proteção e conservação ambiental que realizavam ao longo de gerações.  Nir dirigindo-se ao filho disse:
─ Sua mãe e eu acompanhamos sua trajetória de vida ao longo desses anos que estamos separados. Nossa ausência física foi necessária para que você sozinho passasse por grandes experiências e adquirisse o conhecimento necessário para chegar aonde chegou. Queríamos que você se tornasse um defensor das florestas e conhecesse a importância da água, das plantas, dos animais e encontrasse a sintonia com a natureza. Junto a esse povo avançado procuramos aperfeiçoar nosso conhecimento. Até esse momento nos foi dado o direito de obter alguns ensinamentos que de alguma forma vamos transmiti-los a outras pessoas, sempre em benefício da preservação do planeta, porque salvando a Terra estaremos também livrando seus habitantes de muitos sofrimentos, e temos isso como nosso dever.
─ O que mais vocês aprenderam junto a esse misterioso povo? Perguntou Caure. 
─ Viajando com eles a outros lugares no universo tomamos conhecimento de algumas realidades, desse e de outros lugares no espaço. Agora sabemos que na Terra não estamos sós. Existem outros lugares habitados por seres com as nossas mesmas características, uns mais adiantados que nós, outros que ainda precisam do nosso auxílio para evoluir.  É o caso onde os homens estão destruindo os recursos naturais, os ecossistemas e, se acabarem especialmente a água e os micro-organismos não haverá mais condições de existir vida nesse espaço, mas isso não acontecerá, pois estamos trabalhando no sentido de salvar o planeta Terra, disse Nir.
Então, Nadina explicou ao filho:
─ Partindo dessa cidade base, viajamos em naves espaciais em visita a outras moradas no sistema solar, conhecendo outros povos e outros graus de desenvolvimento moral, científico, tecnológico e espiritual. Muitas coisas que vimos ainda não podem ser reveladas, pois os terráqueos ainda não estão preparados para entender. Através do pensamento povos e luzes de lugares mais adiantados emitem ondas de energia positiva para manter o equilíbrio da Terra, inclusive afastando da orbita terrestre milhares de doenças que atingiriam esse planeta destruindo a inteligência de seres vivos. Nós somos preparados por seres evoluídos para auxiliar os terráqueos a manterem a harmonia e a paz e a passar por grandes transformações até seu povo adquirir sabedoria suficiente para entender os fenômenos da natureza. Não nos foi permitido permanecer em outros lugares mais desenvolvidos em virtude de não estarmos preparados, material e espiritualmente para tanto, mas em breve poderemos atingir esse grau de evolução. Nosso trabalho na conservação do meio ambiente já é o caminho para adquirirmos um maior grau de evolução, nos permitindo, um dia chegarmos a outros mundos habitados, naturalmente sem essa nossa matéria pesada.
Lou fez a apresentação de todos que ali estavam, dizendo serem eles cientistas pertencentes a outros mundos do sistema solar que aqui têm a missão de preparar pessoas para o trabalho de preservação ambiental e manter o equilíbrio e a paz entre os homens de compreensões difíceis.  
─ Quem e como deverão ser essas pessoas a serem instruídas? Perguntou Caure.
─ Terão que ser pessoas bem-preparadas, pois a peleja se dará em um teatro de operações onde a contenda será travada com poderosas nações, cegas pelo poder e domínio, porém será um trabalho de conscientização e nunca de confronto.  Para nós, as armas e os conflitos são coisas de um passado bem distante, respondeu Lou.
A luz do dia foi esmaecendo e com a chegada da silenciosa noite, cascatas de luz em cores envolveram o recinto onde um seleto número de pessoas recebia o convidado Caure e aguardava um pronunciamento de Lou. Num grande salão existia um globo terrestre suspenso por raios de luz, ocupando o centro do salão. Com desenvoltura Lou explanava sobre as áreas de risco marcadas no globo. Os lugares em destaque indicavam as queimadas na floresta, regiões de água poluída, especialmente no continente africano, depósitos de armas atômicas, laboratórios de armas bacteriológicas, áreas de degelo nos polos, oceanos por onde navios e submarinos transportavam ogivas nucleares entre tantos outros perigos que indicavam a situação de risco na Terra.
Naquela ocasião, Caure recebia cumprimentos daquelas misteriosas pessoas que num momento de encantamento lhe desejavam boa sorte por ser ele mais uma criatura unida ao grupo na defesa do meio-ambiente. Estava ele vivenciando um momento fascinante de pura magia. Tudo ali era encanto e lembrava-se que quando criança a mãe falava de um paraíso imaginário, onde tudo era perfeição, um lugar sagrado que abrigava as almas dos seres privilegiados que haviam vivido na Terra. Ela chamava aquele lugar de paraíso, um céu imaginário, por parecer tudo perfeito. Mas ali onde Caure se encontrava ainda não era a perfeição. 
Depois da cerimônia uma suave música celeste envolveu o espaço e Lou sentou-se ao lado de Caure. Ele se sentia extasiado pela música, pela beleza de Lou, e seu perfume suave como a brisa da noite. Os olhos da moça, cor de esmeralda se destacavam em seu corpo sedoso e macio que o fez esquecer por alguns momentos a floresta e seus habitantes. A festa continuava no salão onde centenas de pessoas conversavam, mas Lou só tinha olhos para Caure, ele era o homem mais bonito que ela havia conhecido em toda sua longa existência.
No dia anterior Lou havia feito profundas considerações sobre a natureza, adiantando que para vencer a barreira da destruição feita pelo próprio homem dependia do comportamento dele mesmo, nos próximos vinte anos. Destacou que os recursos naturais estão sendo extintos. A água está escasseando em alguns continentes, tudo levando a crer que se avizinham graves problemas ambientais. Considerava ela que pouca coisa ou quase nada o homem fez para conter a destruição. Por essa razão existe a necessidade de salvar a Terra para que ela possa completar o penúltimo ciclo e chegar a um grande desenvolvimento científico, tecnológico, espiritual e moral, preparando-se para um grande recomeço como aconteceu em outros momentos da sua história.
Lou adiantou ainda que todos os conhecimentos adquiridos pelo homem em épocas passadas estão armazenados na sua memória e são recordados de acordo com as necessidades do momento e seu processo de evolução, buscando dentro de si, a ciência para seu próprio desenvolvimento. Caure gravava todas essas informação em sua mente e, diante dos lógicos ensinamentos de Lou, estava cada vez mais consciente do valor da preservação dos recursos naturais da terra e, recordou que aquela luta era milenar. Naquele momento ele adquiriu o direito de lembrar-se de vidas passadas. Lou o fazia recordar sem traumas as vidas anteriores. Então ele percebeu que ela com toda simplicidade era mais do que uma simples criatura, era sim, uma mestra em magia, ciência e espiritualidade, e por ela sentia um fraterno amor.
Lou pertencia a uma sociedade que possuía alta evolução, vivendo num sistema onde o Estado não existia, uma sociedade sem classes, pacífica, livre, sem propriedade privada. Um povo consciente, vivendo em comunidades, buscando o equilíbrio, usando conhecimentos adquiridos desde remotas eras, quando no planeta existiram civilizações altamente desenvolvidas, capazes de conquistas que o homem de hoje apenas sonha obter. Na sua fala Lou expôs seus pensamentos sobre a natureza e o que poderia ter sido feito para salvar o meio ambiente, salientando que muitas espécies de vegetais e animais desapareceram e outras estão ameaçadas.
Os efeitos da agressão ao meio ambiente são os mais diversos; mudanças climáticas, ciclones, temporais, falta de água potável, doenças tropicais, dificuldade na produção de alimentos e consequentemente a fome. E, sobretudo o calor excessivo, destruindo a vegetação e tantos outros males que assolam o planeta em decorrência da ausência de sensibilidade ecológica do homem moderno, que mais está preocupado com armas atômicas, guerras e domínio sobre as nações menos desenvolvidas.
Caure ouviu de Lou e cientistas presentes que diversas espécies de plantas foram extintas por negligencia das autoridades responsáveis e, citou como exemplo a derrubada de florestas para dar lugar à construção de estradas, plantações, pastagens e retirada ilegal de madeira. Os incêndios criminosos são comuns, provocados por pessoas insensíveis e cruéis.
Essas pessoas esquecem que as florestas tornam a temperatura mais branda, aumentam a umidade por meio da transpiração das plantas, tornam as chuvas mais frequentes, renovam o ar atmosférico durante a fotossíntese, liberam oxigênio para o ar atmosférico, retiram o excesso de gás carbônico, diminuem a velocidade do vento e a incidência direta da chuva no solo, reduzindo a erosão. Estas são apenas algumas vantagens de manter a floresta em pé, e usá-la de maneira sustentável.
  Caure sabia que não estaria solitário na luta pela preservação dos mananciais de riquezas naturais existentes, então, lembrou-se de voltar à floresta. Trovão havia se envolvido com uma cadela e pouco ligava para o dono, seu sonho era levá-la para casa e viver feliz para sempre, mesmo sem ter a missão de procriar, pois era um encantado. Alimento e carinho não faltariam para ela em Tutoia. Consultou o dono que prontamente aceitou. Trovão era uma boa criatura; bem comportada, merecia uma boa companhia.
─ Muito espertinho, disse Caure ao cachorro.
Trovão com cara de vítima respondeu:
─ Você também arranjou uma namorada!
− Chega de conversa, vamos voltar para casa, sorrindo disse Caure.
Ao despedir-se de Lou, prometeu voltar em breve, afinal à floresta onde morava não ficava tão distante, agora conhecia o caminho, em Tutoia aguardaria a volta dos pais. Ficou surpreso quando Lou informou que ele viajaria a bordo de uma aerovime, isto é, uma grande cesta de vime que nas alturas era conduzida por uma águia gigante. Do alto, Caure contemplava os rios e a floresta, confortavelmente a bordo, em companhia de Trovão e a cadelinha Sukir.
Ao chegar a Tutoia, encontrou canoas juntinha na beira do rio, em casa na janela estavam os pais, uma surpresa promovida por Lou, Caure se sentia o homem mais feliz do mundo e pensava numa boa caçada de marrecos no rio Iere em companhia do fiel cachorro. Caure se encontrava num estágio de conhecimento do ecossistema da Amazônia que podia mostrar para a humanidade, que a solução para os problemas ecológicos é o respeito à natureza. Com as queimadas na Amazônia, cresce a emissão de partículas no ar, que têm sido levadas para outras regiões do planeta, causando o aumento da radiação solar. São tantos os malefícios causados pela agressão à natureza na Amazônia, que providências deverão ser tomadas imediatamente, Caure tinha plena consciência dessa realidade que afeta toda a humanidade.
Naquele momento, Caure deveria promover um grande esforço para se aproximar das autoridades responsáveis pela preservação da Amazônia, alertando-as sobre a importância da conservação desses bens naturais. Na floresta poderia contar com a ajuda de novos aliados, isto é, Lou, seu povo e todos os habitantes da floresta, pois tinham um compromisso de estarem ao seu lado na difícil missão. Caure sentia saudade da convivência com Lou, do seu olhar, da meiguice e da doçura, não conhecia outra ventura maior do que essas lembranças. Boas recordações que gozavam de abstrato encanto enchiam de amor o seu coração. Ele imaginava ter sido dos olhos cor de esmeralda de Lou que Deus fez nascer o dia, irradiando grandeza e luz. Caure pensava no destino que traça a caminhada dos homens no mundo. Se um dia o destino lhe concedesse a ventura de viver com Lou, tornar-se-ia a mais feliz das criaturas e, juntos construiriam um amor infinito, percorrendo o mesmo caminho. A imaginação dominava sua mente e, junto aos pais desfrutava da alegria de viver em Tutóia, mas muitos acontecimentos ainda viriam. Só o tempo, senhor absoluto do universo poderia pressagiar.


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