Antonio
2015
Inamuí
Caure sentou-se à sombra da radiante e misteriosa, Inamuí, árvore
milenar, próximo a um regato contemplando a boniteza do lugar. Ali sentiu uma
boa energia e um suave perfume que o fez sonhar como se fosse o próprio sonho
dentro do sonho.
− Veja Trovão, que lugar belo!
− Sim, é diferente de todos os lugares
que conhecemos, respondeu o encantado
cachorro.
O perfume que Caure sentiu o
fez transcender ao espaço e sentir-se
entre o sol e as estrelas num lugar de harmonia e pureza. Admirado com a
perfeição da natureza e seus infinitos encantos, sentiu-se parte dela nesse vergel
de rios, lagos, igarapés, igapós, cachoeiras e uma belíssima vegetação de
árvores floridas de inefável beleza e magia. Pensou em sua amada Lou,
imaginando que sendo ela conhecedora de tantas coisas maravilhosas, certamente
conhecia aquele belo lugar. Então, Caure lembrou-se que ela havia falado de
cenários misteriosos, lugares transcendentais que conheceu ao longo da sua
caminhada pela floresta. Descobrir novos lugares e vivenciar experiências fazia
parte do seu processo evolutivo.
Radiante nascia à manhã surgindo uma brisa serena que o dia sopra ao amanhecer, o orvalho
molhava a vegetação e pingos d’água salpicavam as flores perfumadas da Inamuí
que sob ela Caure repousava. Próximo surgiu uma revoada de pássaros que
pousavam a beira de um Igarapé e, ao dirigir-se a eles Caure perguntou a razão de
tanta alegria e um passarinho
adiantou-se dizendo:
− Olá Caure, já nos conhecemos, meu nome é Sabiá. Estamos aqui para
alegres reverenciarmos Inamuí, a árvore encantada de onde emana esse perfume
trazendo alegria e essa boa energia que atrai saúde e prosperidade para todos
os habitantes das matas. Para nós ela é a rainha dos encantos da floresta, com
seu perfume ela cura as criaturas, transformando a doença em saúde e a tristeza
em alegria, adiantou o Sabiá.
Caure procurou conversar com pássaros e animais do lugar, muitos já o
conheciam, outros se apresentavam para conhecê-lo, admirar sua figura humana e
anunciar a visita de um ilustre homem que zelava pelo santuário. Surpreso,
Caure ficou a imaginar; quem seria o homem privilegiado responsável por um
ambiente tão misterioso e belo.
Luminosa e serena caía à tarde. Caure veio ao encontro de Trovão que
animadamente conversava com um beija-flor e algumas araras. Falava ele às
criaturinhas que por onde andou encontrou bichinhos muito inteligentes e
amáveis que o trataram como a um príncipe. Para ele pescavam, caçavam marrecos,
e colhiam mel de abelhas, chegaram a construir um confortável tapiri para ele.
Falou das lutas travadas contra predadores que queimavam as florestas e, que
heroicamente liderou um grande exército, sendo vitorioso na batalha, enquanto
Caure apenas observava sua luta. Os bichinhos da floresta boquiabertos e sem
maldade acreditavam, mas um Bem-te-vi retorquiu dizendo:
─ Nesse santuário não existem humanos predadores,
portanto aqui não haverá guerra, vivemos em paz.
− Mas isso aconteceu muito distante daqui, justificou
Trovão.
− Ah! Entendi, respondeu o pássaro.
Na presença de Caure, Trovão mudou
a conversa e Caure adiantou:
− Voltemos ao lugar junto a Inamuí, lá permaneceremos a fim de
participarmos da festa em sua homenagem. Trovão, você está induzindo os animais
a trabalharem para você, isto não é justo, lembra-se da raposa? Na floresta
cada qual cuida de si e presta auxilio aos outros, ninguém explora ninguém, não
faça isso, não é ético.
− Estava apenas brincando, respondeu Trovão.
− Eu compreendo, sorrindo respondeu Caure.
Caure voltou à sombra da árvore. A noite chegava com
mansidão, o lugar afundava-se sob o clarão das estrelas e, Caure fitando o
infinito, vendo o surgimento da formosa lua, meditava e expandia seus
pensamentos admirando a grandeza do universo. À noite, sobre a água de um rio surgiu um clarão, e num barco um homem
mantinha-se firme no leme, em minutos abarrancou e veio até Cauré, dizendo:
− Sou Pharysy, o guardião desse santuário, aqui nesse lugar vivi muitas
vidas, até que um dia pela força da natureza me encantei da mesma forma que
você. Somente eu posso trazer os encantos de Inamuí, a árvore encantada que tem
poder e magia. Eu chamo Inamuí para instalar seu reinado com todos os seus
encantos e belezas. Sejam bem vindos aos encantos de Inamuí, disse Pharysy.
− Mas ela é apenas uma árvore! Como pode possuir tanto poder e magia?
Perguntou Caure.
− Da mesma forma que um ser humano vive na terra compondo sua história,
aprendendo uma lição e cumprindo uma missão. Os minerais, vegetais e animais
que se destacam também têm sua participação no processo de desenvolvimento da
terra, porque ela não foi criada ontem, e sim, a muitos milhões de anos e está
num processo de transformação. As árvores também têm sua historia e muitas se
encantam para continuar auxiliando o homem em sua evolução. Grande parte da
humanidade só crê naquilo que pode palpar porque ainda não desenvolveu todas as
suas potencialidades. No entanto à medida que evolui, o que se dá gradualmente,
poderá tornar-se um sensitivo e perceber além da dimensão material.
− Caure olhe bem o azul do céu, o
mundo metafísico, veja quanta beleza! Adiantou Pharysy.
Naquele instante
surgiu um grande e majestoso palácio de luz e encantamento, com jardins, salões
repletos de pessoas em forma de luz, que levitavam e mantinham-se numa alegria
imensa, os trajes iluminados se confundiam com o corpo das pessoas e não podiam
ser descritos, tamanha era sua luz resplandecente. Extasiado, Caure sentiu-se caminhando pelos salões e jardins do
palácio tapizados de esplendores, as pessoas o cumprimentavam e aparentavam uma
matéria completamente diferente de tudo que Caure havia visto.
Lembrou-se de Lou, da cidade
encantada onde tudo era mágico, mas nada igual ao que ali se apresentava, nem
poderia haver comparação, tudo era diferente, outro cenário. Nada ali era
parecido com o que havia visto na cidade encantada. Lembrou-se de Trovão e logo
o enxergou bem próximo, feliz passeava por entre os presentes sem nada temer.
Depois de alguns minutos percebeu a presença de Pharysy a conversar com algumas
pessoas, sem usar a palavra articulada como quando se dirigiu a ele, por certo
pelo pensamento comunicava-se com aquelas figuras de luz.
− Ao aproximar-se de Pharysy, Caure indagou dizendo: Como posso falar com
Inamuí?
− Aguarde que em breve você verá, respondeu Pharysy.
Caure não sentia cansaço nem tinha ideia de tempo, mas sentia um intenso perfume
que o fazia lembrar-se de toda a sua existência, fragrância desconhecida para
ele, embora distinguisse flores com seus perfumes. Admirado, continuou
caminhando pelo palácio contemplando as belezas, tinha a impressão de não estar
na dimensão material, nem muito menos na floresta amazônica. Uma visão chamou
sua atenção com mais intensidade; na luz
que se apresentava ele enxergava toda a fauna e flora que conhecia. Outras lhe
eram desconhecidas. Concluindo, então, que não conhecia quase nada, ainda precisava
muito caminhar para conhecer os segredos e mistérios da natureza. Caure
observou que nada se repetia no que se apresentava, percebendo assim, a
grandeza da natureza.
─ Creio, se eu penetrar milhões de vezes nesses encantos, eles jamais se repetirão,
refletia Caure.
Caure adentrou num salão de cristal translúcido e reparou que o cristal
só possuía o lado de dentro. Então, lembrou-se do universo que só possui o lado
de dentro, coisa que transcendia sua compreensão, mas entendeu que num palácio
daquela magnitude deveria existir um trono, mesmo assim é muito pouco para
tanta realeza. Também procurou um rei, mas não encontrou. Diante da dúvida
Caure teve uma extraordinária visão; Viu
todo aquele cenário em forma de um trono no infinito céu e sobre o trono um
homem com os braços abertos em forma de luz. Diante daquela sublime visão,
Caure sentiu-se parte de tudo que via e
sentia, e exclamando disse.
No mundo encantado da majestosa floresta
Sob a luminosidade dos astros e estrelas
Entre as rosas silvestres da existência
No verde das arvores e colorido das flores
Curvo meu corpo e minha e mente
À natureza de brilho e magia
Aos
seus infinitos encantos
Ao
Rei Sol luz brilhante e harmoniosa
Pai
nosso de infinita grandeza
Tudo aqui é luz magia e encantamento
Vida mistério fortaleza da criação.
Mesmo diante de todas aquelas visões maravilhosas, Caure lembrou-se de
olhar a árvore e viu suas ramagens cor de ouro com fios prateados de luz que se
espargiam num raio sem dimensão. Fitou o céu e viu a lua e as estrelas
brilhando no alto, procurou Pharysy e enxergou seu barco navegando num rio de
luz. Caure sentiu uma suave brisa, um indescritível perfume e mergulhou num
encanto rico e belo com os olhos nevoados de sonhos dourados de ternura e
saudade. /////////
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