domingo, 13 de setembro de 2015

Inamuí


Antonio

2015

Inamuí


Caure sentou-se à sombra da radiante e misteriosa, Inamuí, árvore milenar, próximo a um regato contemplando a boniteza do lugar. Ali sentiu uma boa energia e um suave perfume que o fez sonhar como se fosse o próprio sonho dentro do sonho.
Veja Trovão, que lugar belo!
Sim, é diferente de todos os lugares que conhecemos, respondeu  o encantado cachorro.

 O perfume que Caure sentiu o fez  transcender ao espaço e sentir-se entre o sol e as estrelas num lugar de harmonia e pureza. Admirado com a perfeição da natureza e seus infinitos encantos, sentiu-se parte dela nesse vergel de rios, lagos, igarapés, igapós, cachoeiras e uma belíssima vegetação de árvores floridas de inefável beleza e magia. Pensou em sua amada Lou, imaginando que sendo ela conhecedora de tantas coisas maravilhosas, certamente conhecia aquele belo lugar. Então, Caure lembrou-se que ela havia falado de cenários misteriosos, lugares transcendentais que conheceu ao longo da sua caminhada pela floresta. Descobrir novos lugares e vivenciar experiências fazia parte do seu processo evolutivo.

Radiante nascia à manhã surgindo uma brisa serena que o dia sopra ao amanhecer, o orvalho molhava a vegetação e pingos d’água salpicavam as flores perfumadas da Inamuí que sob ela Caure repousava. Próximo surgiu uma revoada de pássaros que pousavam a beira de um Igarapé e, ao dirigir-se a eles Caure perguntou a razão de tanta alegria e um passarinho  adiantou-se dizendo:

  Olá Caure, já nos conhecemos, meu nome é Sabiá. Estamos aqui para alegres reverenciarmos Inamuí, a árvore encantada de onde emana esse perfume trazendo alegria e essa boa energia que atrai saúde e prosperidade para todos os habitantes das matas. Para nós ela é a rainha dos encantos da floresta, com seu perfume ela cura as criaturas, transformando a doença em saúde e a tristeza em alegria,  adiantou o Sabiá.

Caure procurou conversar com pássaros e animais do lugar, muitos já o conheciam, outros se apresentavam para conhecê-lo, admirar sua figura humana e anunciar a visita de um ilustre homem que zelava pelo santuário. Surpreso, Caure ficou a imaginar; quem seria o homem privilegiado responsável por um ambiente tão misterioso e belo.

Luminosa e serena caía à tarde. Caure veio ao encontro de Trovão que animadamente conversava com um beija-flor e algumas araras. Falava ele às criaturinhas que por onde andou encontrou bichinhos muito inteligentes e amáveis que o trataram como a um príncipe. Para ele pescavam, caçavam marrecos, e colhiam mel de abelhas, chegaram a construir um confortável tapiri para ele. Falou das lutas travadas contra predadores que queimavam as florestas e, que heroicamente liderou um grande exército, sendo vitorioso na batalha, enquanto Caure apenas observava sua luta. Os bichinhos da floresta boquiabertos e sem maldade acreditavam, mas um Bem-te-vi retorquiu dizendo:

  Nesse  santuário não existem humanos predadores, portanto aqui não haverá guerra, vivemos em paz.

Mas isso aconteceu muito distante daqui, justificou Trovão.

Ah! Entendi, respondeu o pássaro.

Na presença de Caure, Trovão mudou a conversa e Caure adiantou:

Voltemos ao lugar junto a Inamuí, lá permaneceremos a fim de participarmos da festa em sua homenagem. Trovão, você está induzindo os animais a trabalharem para você, isto não é justo, lembra-se da raposa? Na floresta cada qual cuida de si e presta auxilio aos outros, ninguém explora ninguém, não faça isso, não é ético.

Estava apenas brincando, respondeu Trovão.

Eu compreendo, sorrindo respondeu Caure.

Caure voltou à sombra da árvore. A noite chegava com mansidão, o lugar afundava-se sob o clarão das estrelas e, Caure fitando o infinito, vendo o surgimento da formosa lua, meditava e expandia seus pensamentos admirando a grandeza do universo. À noite, sobre a água de um rio surgiu um clarão, e num barco um homem mantinha-se firme no leme, em minutos abarrancou e veio até Cauré, dizendo:

Sou Pharysy, o guardião desse santuário, aqui nesse lugar vivi muitas vidas, até que um dia pela força da natureza me encantei da mesma forma que você. Somente eu posso trazer os encantos de Inamuí, a árvore encantada que tem poder e magia. Eu chamo Inamuí para instalar seu reinado com todos os seus encantos e belezas. Sejam bem vindos aos encantos de Inamuí, disse Pharysy.

Mas ela é apenas uma árvore! Como pode possuir tanto poder e magia? Perguntou Caure.

Da mesma forma que um ser humano vive na terra compondo sua história, aprendendo uma lição e cumprindo uma missão. Os minerais, vegetais e animais que se destacam também têm sua participação no processo de desenvolvimento da terra, porque ela não foi criada ontem, e sim, a muitos milhões de anos e está num processo de transformação. As árvores também têm sua historia e muitas se encantam para continuar auxiliando o homem em sua evolução. Grande parte da humanidade só crê naquilo que pode palpar porque ainda não desenvolveu todas as suas potencialidades. No entanto à medida que evolui, o que se dá gradualmente, poderá tornar-se um sensitivo e perceber além da dimensão material.

Caure olhe bem o azul do céu, o mundo metafísico, veja quanta beleza! Adiantou Pharysy.

 Naquele instante surgiu um grande e majestoso palácio de luz e encantamento, com jardins, salões repletos de pessoas em forma de luz, que levitavam e mantinham-se numa alegria imensa, os trajes iluminados se confundiam com o corpo das pessoas e não podiam ser descritos, tamanha era sua luz resplandecente. Extasiado, Caure sentiu-se caminhando pelos salões e jardins do palácio tapizados de esplendores, as pessoas o cumprimentavam e aparentavam uma matéria completamente diferente de tudo que Caure havia visto.

 Lembrou-se de Lou, da cidade encantada onde tudo era mágico, mas nada igual ao que ali se apresentava, nem poderia haver comparação, tudo era diferente, outro cenário. Nada ali era parecido com o que havia visto na cidade encantada. Lembrou-se de Trovão e logo o enxergou bem próximo, feliz passeava por entre os presentes sem nada temer. Depois de alguns minutos percebeu a presença de Pharysy a conversar com algumas pessoas, sem usar a palavra articulada como quando se dirigiu a ele, por certo pelo pensamento comunicava-se com aquelas figuras de luz.

Ao aproximar-se de Pharysy, Caure indagou dizendo: Como posso falar com Inamuí?

Aguarde que em breve você verá, respondeu Pharysy.

Caure não sentia cansaço nem tinha ideia de tempo, mas sentia um intenso perfume que o fazia lembrar-se de toda a sua existência, fragrância desconhecida para ele, embora distinguisse flores com seus perfumes. Admirado, continuou caminhando pelo palácio contemplando as belezas, tinha a impressão de não estar na dimensão material, nem muito menos na floresta amazônica. Uma visão chamou sua atenção com mais  intensidade; na luz que se apresentava ele enxergava toda a fauna e flora que conhecia. Outras lhe eram desconhecidas. Concluindo, então, que não conhecia quase nada, ainda precisava muito caminhar para conhecer os segredos e mistérios da natureza. Caure observou que nada se repetia no que se apresentava, percebendo assim, a grandeza da natureza.

Creio, se eu penetrar milhões de vezes nesses encantos, eles jamais se repetirão, refletia Caure.

Caure adentrou num salão de cristal translúcido e reparou que o cristal só possuía o lado de dentro. Então, lembrou-se do universo que só possui o lado de dentro, coisa que transcendia sua compreensão, mas entendeu que num palácio daquela magnitude deveria existir um trono, mesmo assim é muito pouco para tanta realeza. Também procurou um rei, mas não encontrou. Diante da dúvida Caure teve uma extraordinária  visão; Viu todo aquele cenário em forma de um trono no infinito céu e sobre o trono um homem com os braços abertos em forma de luz. Diante daquela sublime visão, Caure  sentiu-se parte de tudo que via e sentia, e exclamando disse.

No mundo encantado da majestosa floresta

Sob a luminosidade dos astros e estrelas

Entre as rosas silvestres da existência

No verde das arvores e colorido das flores

Curvo meu corpo e minha e mente

À natureza de brilho e magia

Aos seus infinitos encantos

Ao Rei Sol luz brilhante e harmoniosa

Pai nosso de infinita grandeza

Tudo aqui é luz magia e encantamento

Vida mistério fortaleza da criação.


Mesmo diante de todas aquelas visões maravilhosas, Caure lembrou-se de olhar a árvore e viu suas ramagens cor de ouro com fios prateados de luz que se espargiam num raio sem dimensão. Fitou o céu e viu a lua e as estrelas brilhando no alto, procurou Pharysy e enxergou seu barco navegando num rio de luz. Caure sentiu uma suave brisa, um indescritível perfume e mergulhou num encanto rico e belo com os olhos nevoados de sonhos dourados de ternura e saudade.   /////////






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