Havia descido a uma dimensão
inferior distante da luz e do conhecimento, em decorrência de vidas passadas marcadas
pelo orgulho, pai de todas as infelicidades, força que influencia grande parte da
humanidade. Embora, num passado distante haja experimentado a proximidade e o
exercício da virtude e do conhecimento, caminhava por fétidas galerias num
ambiente estreito e escuro, com a
sensação que cairia em um despenhadeiro. Tinha dificuldade de respiração e
pensamentos vagos. Sem equilíbrio, caminhava sem destino certo. Sem lembrança
da minha origem, e noção de tempo, poderia estar nesse lugar há uma eternidade.
Sentia insegurança, solidão e medo, parecendo estar em uma caverna guiado por
contínuas sombras. Sentia-me perdido em um labirinto sem saída, preso na escuridão
física e mental, sem lembrança do passado do presente ou futuro. Mergulhado nesses
esquecimentos, havia embaciada a lembrança da minha realidade. Após algum tempo,
felizmente no alto enxerguei uma Luz que, embora entre nós existisse infinita
distância, me confortava por enxergar além da cósmica escuridão. Ao longo do tempo
descortinei no universo; astros, estrelas, a Lua e o Sol clareando a Terra e,
vendo o nascer do dia e a claridade, não mais senti medo das trevas. Foi então,
esta a primeira manhã que vi o Sol nascer. Na clareza de um esplendoroso dia
descobri a vegetação, a luz solar se espargindo sobre ela nutrindo e embelezando
suas plantas e flores molhadas pelo orvalho das auroras. Caminhando, senti nos
pés a maciez da areia e da relva cobrindo à Terra encharcada d’água. A beleza e
a riquíssima diversidade das plantas me alegraram levando-me ao encantamento. Pela
força da natureza, devagarzinho desvendei o mistério da minha existência. O
brando e suave vento tocava meu rosto e, mesmo sem conhecer sua origem agradou meus
sentidos, embora, ainda indagasse para mim mesmo: Quem eu sou? Dessa forma
senti a necessidade de pensar, sendo esse um atributo da minha alma que naturalmente
surgiu no céu das minhas recordações. Quando o Sol deitou sua Luz no ocidente compreendi
que pela primeira vez via o por do Sol e o surgimento da noite. Comecei, então,
a entender a natureza e suas formas; os astros, estrelas, o Sol e a Lua clareando
a Terra. Tudo era rico e belo, mas, precisava conhecer o arquiteto que havia
construído essa Divina obra universal. Em uma alegre manhã com o Sol dourando
um novo amanhecer, acordei ouvindo o trilar dos passarinhos, o sussurro da água
no ribeiro e árvores enfeitadas de flores e frutos formando um inesquecível
vergel. Parecia que a natureza estava em festa, aguardando uma ilustre visita. Ali
permaneci procurando entender a natureza, buscando conhecer com mais clareza os
sentidos e as formas, construindo um rico e profundo sentimento de amor pela
fauna, à flora e as criaturas. Passeava pelas florestas, águas, santuários e
por distantes lugares, mas ainda havia uma questão que não entendia; a razão da
minha existência. Resolvi então, empreender uma longa viagem pelos mares, rios,
florestas, e distantes lugares, assistindo o amanhecer e o entardecer. Nessa
viagem cheguei a um lugar, avistando uma casa. Hesitei... Mas, ao aproximar-me escutei
surpreendente cântico celestial sentindo um turbilhão de lembranças armazenadas
em minha memória. Quando cheguei mais perto, recordei de passagens pela Terra,
de lugares, pessoas, línguas, ciências e também de ilusões. A ciência me
reconduziu à realidade, mas quanto às ilusões, suas lembranças e práticas me
fizeram sofrer. Havia encontrado um lugar diferente de todos que conhecera. Um
espaço para refletir sobre o que recordara; origem, destino e a razão de estar naquele
misterioso lugar. Lembrando-me do passado, entendi o presente e o futuro. Quando
me aproximei da bela casa azul, com janelas amarelas e cortinas de renda branca,
esvoaçando com o vento, cumprimentei pessoas que sorrindo me abraçaram. Chorando
de alegria lembrava-me que as conhecia e felizes festejávamos. Num ágape
constante convivi com as pessoas que me anfitriaram e, juntas a mim aguardavam
o que me seria surpresa. Todos se apressaram chegando à janela, queriam ver um
Homem que passava e, eu também apressurei-me para vê-lo, que por certo seria
importante, dado a contagiante alegria que reinava entre todos. O Homem que
caminhava à frente tinha indelével beleza, vestia uma túnica branca, tinha nos
pés sandálias, e no coração trazia o Amor, a Justiça e o Perdão. Com seu olhar
senti toda a felicidade e a alegria que eu merecia. Jesus de Nazaré é o seu
nome.
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