terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Indelével lembrança

Havia descido a uma dimensão inferior distante da luz e do conhecimento, em decorrência de vidas passadas marcadas pelo orgulho, pai de todas as infelicidades, força que influencia grande parte da humanidade. Embora, num passado distante haja experimentado a proximidade e o exercício da virtude e do conhecimento, caminhava por fétidas galerias num ambiente estreito e escuro, com a sensação que cairia em um despenhadeiro. Tinha dificuldade de respiração e pensamentos vagos. Sem equilíbrio, caminhava sem destino certo. Sem lembrança da minha origem, e noção de tempo, poderia estar nesse lugar há uma eternidade. Sentia insegurança, solidão e medo, parecendo estar em uma caverna guiado por contínuas sombras. Sentia-me perdido em um labirinto sem saída, preso na escuridão física e mental, sem lembrança do passado do presente ou futuro. Mergulhado nesses esquecimentos, havia embaciada a lembrança da minha realidade. Após algum tempo, felizmente no alto enxerguei uma Luz que, embora entre nós existisse infinita distância, me confortava por enxergar além da cósmica escuridão. Ao longo do tempo descortinei no universo; astros, estrelas, a Lua e o Sol clareando a Terra e, vendo o nascer do dia e a claridade, não mais senti medo das trevas. Foi então, esta a primeira manhã que vi o Sol nascer. Na clareza de um esplendoroso dia descobri a vegetação, a luz solar se espargindo sobre ela nutrindo e embelezando suas plantas e flores molhadas pelo orvalho das auroras. Caminhando, senti nos pés a maciez da areia e da relva cobrindo à Terra encharcada d’água. A beleza e a riquíssima diversidade das plantas me alegraram levando-me ao encantamento. Pela força da natureza, devagarzinho desvendei o mistério da minha existência. O brando e suave vento tocava meu rosto e, mesmo sem conhecer sua origem agradou meus sentidos, embora, ainda indagasse para mim mesmo: Quem eu sou? Dessa forma senti a necessidade de pensar, sendo esse um atributo da minha alma que naturalmente surgiu no céu das minhas recordações. Quando o Sol deitou sua Luz no ocidente compreendi que pela primeira vez via o por do Sol e o surgimento da noite. Comecei, então, a entender a natureza e suas formas; os astros, estrelas, o Sol e a Lua clareando a Terra. Tudo era rico e belo, mas, precisava conhecer o arquiteto que havia construído essa Divina obra universal. Em uma alegre manhã com o Sol dourando um novo amanhecer, acordei ouvindo o trilar dos passarinhos, o sussurro da água no ribeiro e árvores enfeitadas de flores e frutos formando um inesquecível vergel. Parecia que a natureza estava em festa, aguardando uma ilustre visita. Ali permaneci procurando entender a natureza, buscando conhecer com mais clareza os sentidos e as formas, construindo um rico e profundo sentimento de amor pela fauna, à flora e as criaturas. Passeava pelas florestas, águas, santuários e por distantes lugares, mas ainda havia uma questão que não entendia; a razão da minha existência. Resolvi então, empreender uma longa viagem pelos mares, rios, florestas, e distantes lugares, assistindo o amanhecer e o entardecer. Nessa viagem cheguei a um lugar, avistando uma casa. Hesitei... Mas, ao aproximar-me escutei surpreendente cântico celestial sentindo um turbilhão de lembranças armazenadas em minha memória. Quando cheguei mais perto, recordei de passagens pela Terra, de lugares, pessoas, línguas, ciências e também de ilusões. A ciência me reconduziu à realidade, mas quanto às ilusões, suas lembranças e práticas me fizeram sofrer. Havia encontrado um lugar diferente de todos que conhecera. Um espaço para refletir sobre o que recordara; origem, destino e a razão de estar naquele misterioso lugar. Lembrando-me do passado, entendi o presente e o futuro. Quando me aproximei da bela casa azul, com janelas amarelas e cortinas de renda branca, esvoaçando com o vento, cumprimentei pessoas que sorrindo me abraçaram. Chorando de alegria lembrava-me que as conhecia e felizes festejávamos. Num ágape constante convivi com as pessoas que me anfitriaram e, juntas a mim aguardavam o que me seria surpresa. Todos se apressaram chegando à janela, queriam ver um Homem que passava e, eu também apressurei-me para vê-lo, que por certo seria importante, dado a contagiante alegria que reinava entre todos. O Homem que caminhava à frente tinha indelével beleza, vestia uma túnica branca, tinha nos pés sandálias, e no coração trazia o Amor, a Justiça e o Perdão. Com seu olhar senti toda a felicidade e a alegria que eu merecia. Jesus de Nazaré é o seu nome.


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